sexta-feira, 26 de março de 2010

Aos participantes do grupo de leitura- email da Profa. Dra. Léa Masina

Queridos amigos:

Porque amanhã será nosso primeiro sábado, estou enviando a vocês o poema de Vinícius de Moraes, cujo estribilho nomeou o nosso encontro.(sugestão de Ingrid Birnfeld). E sugiro que visitem o nosso blog e se manifestem nele: http://www.leiturascomlea.blogspot.com.br/.

Não esqueçam o endereço: Marquês do HERVAL, 315 - salão de festas. O escritor Walter Galvani e eu teremos o maior prazer em tê-los conosco nesse encontro, inclusive aos nossos prezadíssimos demais ministrantes.



O DIA DA CRIAÇÃO


I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo o mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.


II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há uma sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado


III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens,
ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como
as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse, ó Senhor, e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmica
em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águar em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, frequentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança.

terça-feira, 23 de março de 2010

Contribuição do Professor Walter Galvani ao blog "Porque hoje é sábado"


"Tudo nos escapa, e todos, e nós mesmo. A vida do meu pai é-me mais desconhecida que a de Adriano. Minha própria existência, se eu quisesse escrevê-la, seria reconstituída por mim pelo exterior, penosamente, como a de outra pessoa; teria de recorrer às cartas, a lembranças de outrem, para fixar essas memórias flutuantes. Não passam nunca de paredes desmoronadas, cortinas de sombra, conseguir que as lacunas de nossos textos no que se refere a vida de Adriano, coincidam com o que teriam sido os seus próprios esquecimentos.
O que não significa como se diz exageradamente, que a verdade histórica seja sempre e em tudo inacessível. Acontece com essa verdade, o mesmo que com todas as outras: enganano-nos mais ou menos.
As regras do jogo: tudo aprender, tudo ler, informar-se de tudo e, simultaneamente, adaptar ao objetivo a ser atingido."




Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar



sábado, 20 de março de 2010

Programa dos encontros

PORQUE HOJE É SÁBADO

COORDENAÇÃO: Profa. Dra. Léa Masina (lmasina.ez@terra.com.br)

Local: Rua Marquês do Herval, 315 – Salão de Festas
Horário: das 10 às 12 horas, sábados
Investimento: 80 reais o encontro (pagos no ato, mediante inscrição prévia)

PROGRAMA

Março, 27 - Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar
Escritor e Jornalista Walter Galvani


Abril, 24 - Ficções, de Jorge Luis Borges (contos Tlon, Uqbar, Orbis Tertius, Ruínas Circulares, Aproximação a Almostasin, O milagre secreto)
Jornalista e Mestre em Literatura José Francisco Botelho


Maio, 29 - Crime e Castigo, de Dostoiewski
Professor João Armando Nicotti


Junho, 26- O retrato de Dorian Gray , de Oscar Wilde
Professor Doutor em Literatura Ricardo Barberena


Julho, 17 - Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe
Professor Doutor em Letras Gerson Neumann


Agosto, 28 - História dos treze (trilogia, L&PM) , de Honoré de Balzac
Escritor e Editor Ivan Pinheiro Machado


Setembro, 25 – Por quem os sinos dobram?, de Ernest Hemingway
Escritor Alcy Cheuiche

Outubro, 23 - Contos, de Katherine Mansfield
Professora Doutora Patrícia Lessa Flores da Cunha

Novembro, 27. Linha de sombra, de Joseph Conrad
Professor, Mestrando em Letras pela UFRGS e Tradutor Guilherme Braga

Dezembro, 18 – A maçã no escuro, de Clarice Lispector
Professor Doutor e Jornalista Tatata Pimentel