segunda-feira, 31 de maio de 2010

Retorno do Prof. Nicotti sobre "Porque hoje é sábado"

Abaixo, o email enviado por Prof. Nicotti, ministrante do excelente encontro o último sábado, 29 de maio, sobre o livro Crime e Castigo, de Dostoiévski.

"Prof. Léa Masina
Primeiramente, gostaria de agradecer mais uma vez pela boa acolhida e pelo convite feito. Este grupo que se reúne aos sábados pela manhã destoa da cidade, como comentei hoje pela manhã. Foi um imenso prazer estar com vocês neste encontro dostoievskiano. Foi uma manhã de sábado que há tempo eu não desfrutava. Aliás, amanhã mesmo começo minhas observações sobre CRIME E CASTIGO. Obrigado, também, por mais este convite.
Abraço. Nicotti. "

domingo, 9 de maio de 2010

Algumas traduções de Crime e Castigo no Brasil

Crime e Castigo, na edição da Editora 34, tem tradução direta do russo, por Paulo Bezerra, e edição atualizada em 2009, pelo acordo ortográfico.
Prêmio Paulo Rónai da Biblioteca Nacional de Melhor Tradução 2002. Sobre o tradutor:
Paulo Bezerra estudou língua e literatura russa na Universidade Lomonóssov, em Moscou, e foi professor de teoria da literatura na UERJ e de língua e literatura russa na USP. Livre-docente em Letras, leciona atualmente na Universidade Federal Fluminense. Já verteu diretamente do russo mais de quarenta obras nos campos da filosofia, psicologia, teoria literária e ficção, destacando-se suas premiadas traduções de Crime e castigo, O idiota e Os demônios, de Dostoiévski. Entrevista com o tradutor Paulo Bezerra no link: http://www.ufmg.br/boletim/bol1442/sexta.shtml



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Coleção L&PM POCKET

CRIME E CASTIGO
PRESTUPLENIE I NAKAZANIE
Dostoiévski


Tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes.

Leia um trecho do livro no site da L&PM Editores


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Sobre as traduções- visita ao blog http://www.armonte.wordpress.com/ :
"No começo dos anos 80, li Crime e Castigo, de Dostoievski, pela primeira vez. A Abril Cultural, àquela época, estava lançando a série “Obras-Primas” em edições caprichadíssimas quanto a capas, papel, lombada, tudo de primeira, e muito barato. A tradução era de Natália Nunes (a mesma que consta das Obras Completas pela Aguilar).
Em 2001, pela editora 34 apareceu a tradução de Paulo Bezerra, ao que consta a única direta do russo.
Entre uma e outra (“biquei” também nas minhas diversas e fragmentadas voltas ao livro a tradução de Luiz Cláudio de Castro, que saiu pela Ediouro), descobri nos sebos a edição que a José Olympio fez das obras de Dostoievski e creio que ali encontrei o “meu” Crime e Castigo, o de Rosário Fusco (sua tradução foi publicada, em primeira edição, em 1949; tenho a edição de 1955, onde não se modernizara ainda a transcrição dos nomes russos, eles estão todos à francesa; mais tarde, em edições posteriores, Guimarães Rosa supervisionou a nova transcrição).
Quem é Rosário Fusco? Um grande nome do modernismo mineiro (nasceu em 1910 e morreu em 1976), membro do grupo que em Cataguazes manteve a revista “Verde”. Como ele está praticamente esquecido, ainda mais com esse nome exótico, devo dizer que só soube mais da sua existência e da sua obra quando estava estudando o modernismo mineiro para minha tese de doutorado sobre Autran Dourado. Há um capítulo nela chamado “O tamanho mineiro do modernismo”, em que estudo textos de Godofredo Rangel, João Alphonsus e Cyro dos Anjos e também comento algo a respeito de Fusco e Afonso Arinos. Para mim, durante anos, Fusco foi única e exclusivamente o esplêndido tradutor de nome insólito de Crime e Castigo. Na época em que escrevia a minha tese (final dos anos 90 e começo desta nossa década) era ainda muito refratário à Internet, praticamente não a utilizava, e meu método de pesquisa era muito pouco ortodoxo, um pouco guiado pela “música do acaso”. E essa música me fez encontrar, na biblioteca da escola onde dava aula, justamente um exemplar de O Agressor, de Fusco, numa obscura edição de 1976 da Francisco Alves. Um romance aliás todo dostoievskiano, mostrando a tensão crescente entre o protagonista David e uma dona de pensão autoritária, “disciplinadora”. Também li por essa época a obra de João Alphonsus e um de seus contos, O Mensageiro, apresenta o mesmo tipo de embate, com as mesmas características raskólnikovianas de oscilação entre o sentimento de onipotência e o auto-rebaixamento.
Sei que vou espantar e decepcionar os puristas e adeptos de traduções vertidas diretamente do original, mas a tradução feita do francês do grande escritor mineiro é, para mim, a que melhor capta o espírito, mais que a letra, do romance mais famoso do grande autor russo. Há algo na cadência febril do estilo de Fusco, algo na sua fuliginosidade, que o aproxima mais do texto do que todos os esforços, mais que louváveis, decerto, do grande Paulo Bezerra (diga-se de passagem, é bom que ambas as versões existam).
Pois bem, após o começo dos anos 80, meu Raskólnikov se tornou mais Fusco, e a Abril Cultural virou a Nova Cultural e foi aquela decadência… Eles volta e meia relançavam a série “Obras-Primas” mas sempre em edições progressivamente pioradas. A última versão então apresentava traduções suspeitíssimas assinadas por nomes que eu duvido que existam (ficamos menos crédulos e mais espertos graças à persistência e disciplina de Denise Bottman e seu site Não gosto de plágio). A última edição de Crime e Castigo apresentava outro deslize grave: ali não constava o nome do tradutor.
Agora em 2010, passando por uma banca, vi que tinham novamente lançado a série. Pensei: mais um ato de picaretagem. Mas resolvi arriscar (afinal, R$14,90!) e qual não foi a minha surpresa ao ver que, além da qualidade, dessa vez resgataram a tradução de Rosário Fusco. Eis o motivo desse meu post. Acho é um texto que faz parte do nosso patrimônio cultural, e que não poderia ficar soterrado pelas areias do tempo. É uma grande tradução, que acerta o centro, o coração do lusco-fusco em que se movimentam os tipos dostoievkianos.
Para o leitor ter uma idéia de cada uma das quatro traduções, e ver qual a que mais o atrai, vou transcrever o início de cada uma delas.


A de Rosário Fusco começa assim:
“Numa dessas tardes mais quentes dos princípios de julho, um rapaz saía do pequeno quarto que alugara, no Beco S., dirigindo-se, o passo tardo, vacilante, para a ponte K. Teve sorte de não encontrar, na escada, a senhoria.
A água-furtada fica no alto de uma casa enorme, de cinco andares, e parecia mais um armário do que um cômodo habitável. A criatura que lhe alugara o cubículo, com comida e serviço de empregada, morava, justamente, logo embaixo de maneira que era obrigado, cada vez que saísse, a passar pela frente da respectiva cozinha, cuja porta, geralmente escancarada, dava para a escada. Nessa ocasião, sua expressão se contraía e vinha-lhe, sempre, aquela vaga sensação mórbida de pavor que o humilhava…”


A de Natália Nunes:
“Nos começos de julho, por um tempo extremamente quente, saía um rapaz de um cubículo alugado, na travessa de S., e, caminhando devagar, dirigia-se à ponte de K.
Discretamente, evitou encontrar-se com a dona da casa na escada. O tugúrio em que vivia ficava precisamente debaixo do telhado de uma alta casa de cinco andares e parecia mais um armário do que um quarto. A mulher que lho alugava, com refeição completa, vivia no andar logo abaixo, e por isso, quando o rapaz saía tinha de passar fatalmente diante da porta da cozinha, quase sempre aberta de par em par sobre o patamar.E todas as vezes que procedia assim sentia uma mórbida impressão de covardia, que o envergonhava e o fazia franzir o sobrolho.”



A de Luiz Cláudio de Castro:
“Em um maravilhoso entardecer de julho, extraordinariamente cálido, um rapaz deixou o quarto que ocupava no sótão de um vasto edifício de cinco andares no bairro de S., e, lentamente, com ar indeciso, se encaminhou para a ponte de K.
Teve a felicidade, ao descer, de não encontrar a senhoria, que morava no andar inferior. A cozinha, cuja porta estava sempre escancarada, dava para as escadas. Sempre que se ausentava, via-se o moço na contingência de afrontar as baterias do inimigo, o que o fazia passar pela forte sensação de quem se evade, que o humilhava e lhe carregava o sobrecenho.”



A de Paulo Bezerra:
“No cair da tarde de um início de julho, calor extremo, um jovem deixou o cubículo que subalugava de inquilinos na travessa S, ganhou a rua e, ar meio indeciso, caminhou a passos lentos em direção à ponte K.
Saiu-se bem, evitando encontrar a senhoria na escada. Seu cubículo ficava bem debaixo do telhado de um alto prédio de cinco andares, e mais parecia um armário que um apartamento. Já a senhoria, de quem ele subalugava o cubículo com cama e mesa, ocupava um apartamento individual um lanço de escada abaixo, e toda vez que ele saía para a rua tinha de lhe passar forçosamente ao lado da cozinha, quase sempre de porta escancarada para a escada. E cada vez que passava ao lado, o jovem experimentava uma sensação mórbida e covarde, que o envergonhava e levava a franzir o cenho.”

Só uma observação: a tradução de Luiz Cláudio de Castro erra feio em usar termos como “maravilhoso” e “cálido” para esse entardecer de julho, uma vez que logo a seguir Dostoievski se esmera em dar um retrato quase apocalíptico do verão de São Petersburgo, no qual só encontramos os pobres, muitos deles embriagados, porque os endinheirados deixaram a cidade para suas residências de verão, fugindo do mau cheiro pestilento. Por isso, é muito difícil que, num lugar assim, o entardecer fosse “maravilhoso” e “extraordinariamente cálido”. É um lugar de pesadelo, apropriado para a andança febril do protagonista."
Nota: Foram expostos aqui alguns depoimentos e considerações sobre aspectos das traduções de 'Crime e Castigo". A Equipe do blog http://www.leiturascomlea.blogspot.com agradecerá sugestões e discussões sobre o tema desta postagem. Assim, aguardaremos comentários e a participação dos visitantes deste espaço, sembre bem-vindos.

Notas sobre Dostoiewski- contribuição Profa. Dra. Léa Masina

FIÓDOR DOSTOIEWSKI

Nasceu em Moscou em 30 de outubro de 1821 e morreu em são Petersburgo em 9 de fevereiro de 1881. Obedecendo ao desejo paterno, foi educado, con tra sua vontade, numa escola militar de engenharia. O horror que sentia pelo sistema de vida militar fez com que se tornasse um solitário. Entregou-se muito cedo à leitura, principalmen te das obras de Schiller, Dickens, Sue, Jorge Sand e Balzac, do qual chegou a fazer traduções. Nessa época, a Europa começava a enfrentar conflitos sociais. Na Rússia czarista também era grande o movimento em prol de reformas, liberalização do regime, modernização do país e maior justiça social.

Dostoiewski iniciou a militância política em meio aos grupos anarquistas e, simultaneamente, decidiu tornar-se escritor. Demitiu-se do exército, procurando mais tempo para concluir seu primeiro livro - "Pobre Gente" - que a crítica recebeu com frieza, acusando-o de imitar Gogol. Desses primeiros trabalhos, o que conseguiu maior sucesso foi a novela "Noites Brancas".

Envolvido na conspiração do rebvolucionário Mikhael Petrachésvski, que pretendia assassinar Nicolau I, Dostoiewski foi preso e condenado à morte. No último momento, quando já estava no patíbulo, a pena foi transformada em trabalhos forçados na Sibéria. Anistiado em 1859, fixou residência em São Petersburgo, totalmente transformado pela dura experiência descrita em "Humilhados e Ofendidos" (1861) e "Recordações da Casa dos Mortos" (1862).

Resolve então dedicar-se ao jornalismo, fundando, com seu irmão Mikhail, o periódico "O Tempo". Mas a fama reconquistada não lhe traz o dinheiro necessário. O jornal e a doença da esposa custam caro. Dostoiewski acumula empréstimos; os credores ameaçam-nos de prisão. Em 1862, foge para o exterior, levando consigo uma jovem estudante, Polina Súslova. O dinheiro que conseguira levantar para a viagem, bem como o que ganhou com seus trabalhos na França, é dissipado pelo jogo. Por fim,deixa a amante - que seria personagem dos romances "O Jogador" (1866), "O Idiota" (1869) e "Os Irmãos Karamázov" (1880) - e volta à Rússia.

Ali, encontra a situação política mudada, o jornal fechado por ordem do governo, a esposa agonizante e o irmão em péssima situação financeira. Essa fase crítica, marcada ainda por fortes crises de epilepsia, leva o escritor a um estado de angústia que, no entanto, assinala seu amadurecimento completo como escritor. Publica "Memórias do subterrâneo" (1864) e "Crime e Castigo" (1866), considerado seu romance mais importante. Em 1867, casa-se com Ana Grigoriévna, uma estenógrafa de 21 anos. Novamente assediado pelos credores, foge para Genebra e, algum tempo depois, parte paraa Itália. Retorna à Rússia em 1871 e assume o cargo de redator chefe de "O Cidadão". É desse período o livro "Os Possessos" (1872), onde repudia os antigos companheiros de luta política. Com a publicação dos seus últimos romances - "O Adolescente" e "Os Irmãos Karamázov" - Dostoiewski passa a ser considerado o maior autor russo de seu tempo. Seus últimos anos foram tranquilos e felizes. Morreu atacado por uma hemorragia.

(Texto de Introdução a "Crime e Castigo", Abril Cultural, trad. de Natália Nunes)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Contribuições do Professor João Armando Nicotti

Considerações críticas sobre CRIME E CASTIGO, de Dostoievski

João Armando Nicotti


1. “CRIME E CASTIGO assegurou a popularidade do escritor. Não se falou senão desse acontecimento literário durante o ano de 1866: toda a Rússia preocupou-se com isso. Por ocasião do aparecimento do livro um estudante de Moscou assassinou um agiota em condições, sob todos os aspectos, semelhantes às imaginadas pelo romancista. Empreendeu-se uma curiosa estatística, procurando em muitos atentados análogos, cometidos desde então, a parte de influência dessa leitura. Decerto, as intenções de Dostoievski não admitem dúvida, ele procurou desviar-nos de semelhantes ações pelo quadro do suplício íntimo que as segue; mas não previu que a força excessiva de tais pinturas pudesse agir em sentido oposto, tentando o demônio da imitação nas regiões irracionais do cérebro. Sinto-me, por este motivo, muito embaraçado para pronunciar-me sobre o valor moral da obra. Nossos escritores dirão que me preocupo muito com isso. Não admitem, bem o sei, que esse elemento possa ser levado em conta na apreciação de uma obra de arte; como se alguma coisa existisse, no mundo, independente do valor moral! Os autores russos são menos soberbos, nutrem sempre o propósito de alimentar as almas, e a maior injúria que se lhes pode fazer é dizer-lhes que reuniram palavras sem servir a uma idéia. O romance de Dostoievski poderá ser tido como eficaz ou prejudicial, segundo o ponto de vista em que nos colocarmos, a favor ou contra a moralidade das execuções e dos processos públicos. A questão é da mesma ordem. Para mim ela será resolvida pela negativa.” (O romance russo. Melchior de Vogué. Editora A Noite.)

2. “Después de la figura de ‘el hombre del subsuelo’, Raskólnikov fue el primer protagonista de Dostoievsky, en el que se puede ver la proyección de las ideas del autor en el proceso de clarificación que él buscó en la realización artística de ellos. Casi podríamos decir que el escritor imaginó el personaje de Razumíchin, el amigo de Raskólnikov, para por medio de él caracterizar mejor a su héroe; pero en el desarollo de la novela, éste, además de definirse por sus acciones, se define también por el prolongado duelo dialéctico que tiene, antes de confesar, con el juez instructor Porfíri Petróvich, acerca del derecho a cometer un delito por el bien de la humanidad, delito que el juez define como ‘fruto de un corazón irritado teóricamente’. La idea de Raskólnikov no era literariamente una novedad, pero es difícil saber si con Raskólnikov, Dostoievsky pretendia hacer un paralelo ruso al problema ya expuesto por Balzac en Père Goriot con el dilema de Rastignac sobre si un hombre tiene el derecho de realizar un pequeño mal a fines de un gran bien o, en forma más parecida a la de Dostoievsky, de matar a un ser nulo y nocivo para dar la felicidad a otros muchos buenos que de otro modo se perderían. Para mostrar claramente su idea, Dostoievsky hace razonar extensamente a su héroe acerca de Napoléon, tanto que la crítica rusa habló de la ‘idea-Napoleón’ en base a una relación puramente conjetural entre Dostoievsky y Nietzsche, debida a la admiración que el filósofo del superhombre tuvo por el autor de Crimen y castigo.” (La literatura rusa moderna. Ettore Lo Gatto. Losada.)

3. “As doutrinas dos niilistas russos, ponto de partida do autor, só podem ser consideradas desinteressantes se as julgarmos em termos de algum horizonte filosófico mais amplo; mas a genialidade de Dostoiévski permitiu-lhe elevá-las a alturas artísticas comparáveis às maiores criações da tragédia grega e elisabetana. Seus romances são, como há muito tempo os chamou Viatcheslav Ivánov, ‘romance-tragédia’ tanto em sua técnica cênica quanto na força intransigente com que anunciam o choque de alternativas morais e religiosas conflitantes. Todavia, essas alternativas derivam dos conflitos socioculturais da própria época e lugar do romancista; e, se estamos interessados em entender Dostoiévski mais do que os numerosos meios pelos quais tomou consciência do mundo moderno, é indispensável tomar essas origens como nosso ponto de partida interpretativo. De outro modo, estamos sujeitos a nos extraviar tristemente na avaliação dos sentidos que ele quis transmitir e até mesmo a não entender as estruturas artísticas pelas quais esse sentido é comunicado.” (Dostoievski – Os anos milagrosos – 1865 a 1871. Joseph Frank. Edusp.)


Seleção: Professor Nicotti

Sobre o "Porque hoje é sábado" de maio

Caros amigos:

Mesmo quem não se inscreveu para o PORQUE HOJE É SÁBADO poderá inscrever-se para palestras individuais, basta manifestar-se por email (lmasina.ez@terra.com.br).

Dostoiewski vai ser no dia 29 de maio, às 10 horas. End. Marquês do Herval 315, salão de festas.

E vai ser um encontro fantástico!

abços. da Léa Masina

Contribuição Profa. Dra. Léa Masina

(...) Só um livro fantástico se sustenta nessa extensão toda. Leio 3 ou 4 capítulos por dia, vou anotando nomes e situações, isso facilita reter os episódios para relacioná-los ao longo da obra. É um primoroso exercício de prosa realista, Dostoiewski tem a capacidade de entrar na alma da personagem, sobretudo na primeira parte, em Raskolhnikóv, e traduzir em palavras seus sentimentos! Vamos nos dando conta de que isso aconteceu intuitivamente, antes de Freud, e que os nossos grandes analistas psicológicos são todos filhotes de Dostoiewski (por exemplo, Machado de Assis). Segue um anexo, para irmos lendo...

Bom trabalho para todos e logo nos encontraremos no dia 29. Podem convidar amigos leitores, serão bem acolhidos.

Crime e Castigo- anexo enviado por Profa. Dra. Léa Masina

O personagem principal, apesar de professor de línguas, é um homem extremamente pobre e que vive angustiado pela sombra de se tornar alguém melhor ou fazer algo importante. Ele divide o homem em ordinário e extraordinário, numa tentativa de explicar a quebra das regras em prol do avanço humano.
Seguindo este preceito - fazer algo que mude a sociedade ou em prol dela - o personagem planeja, em meio a uma luta consigo, a morte de uma
agiota e, finalmente, cumpre-o.
Antes de fugir da cena do crime, porém, Raskólnikov também comete, a contragosto, levado apenas pela situação de surpresa, o assassinato de Lisavieta, irmã da velha agiota, pois ela havia visto o cadáver recém-assassinado no chão.
Este personagem principal rouba algumas joias, mas não chega a usufruir deste ganho, e sentindo-se arrependido enterra-as sob uma pedra.
Após tal fato e seus desfechos, o romance relata de maneira detalhista os dramas psicológicos sofridos pelo autor do homicídio, toda a sua saga, sofrimento e arrependimento.
Diversas histórias se desenvolvem de maneira paralela à principal, entre elas um romance da irmã do personagem Raskólnikov e as relações do personagem com Sônia.
Apesar de investigar Raskólnikov, a polícia termina por prender um inocente que se intitulou culpado por uma razão pessoal (bem explicado no livro). Entretanto, o personagem por fim confessa o crime que cometera. A confissão deveu-se, principalmente, à enorme influência de Sônia, que, antes disso, compartilha com Raskólnikov algumas leituras do
Novo Testamento.
Por fim, Raskólnikov é preso. Porém, devido à sua confissão, arrependimento e ótimo antecedentes, sua pena acaba por ser reduzida a oito anos em uma cadeia na
Sibéria. Durante tal período, Sônia, personagem que a partir de certo momento segue Raskólnikov em todas as situações, manteve-se muito presente, servindo até mesmo de mensageira a sua família em São Petesburgo.
Os flagrantes traços autobiográficos, como adoração pela mãe, o vício do jogo (O Jogador) e a fidelidade psicológica, bem como os traços estilísticos do autor, colocaram esta obra, indubitavelmente, entre as maiores da história da literatura universal e, certamente, junto com
Os Irmãos Karamazov, garantiram a Fiódor Dostoiévski a posição de maior escritor russo da história em conjunto com Lev Tolstoy.