terça-feira, 4 de maio de 2010

Contribuições do Professor João Armando Nicotti

Considerações críticas sobre CRIME E CASTIGO, de Dostoievski

João Armando Nicotti


1. “CRIME E CASTIGO assegurou a popularidade do escritor. Não se falou senão desse acontecimento literário durante o ano de 1866: toda a Rússia preocupou-se com isso. Por ocasião do aparecimento do livro um estudante de Moscou assassinou um agiota em condições, sob todos os aspectos, semelhantes às imaginadas pelo romancista. Empreendeu-se uma curiosa estatística, procurando em muitos atentados análogos, cometidos desde então, a parte de influência dessa leitura. Decerto, as intenções de Dostoievski não admitem dúvida, ele procurou desviar-nos de semelhantes ações pelo quadro do suplício íntimo que as segue; mas não previu que a força excessiva de tais pinturas pudesse agir em sentido oposto, tentando o demônio da imitação nas regiões irracionais do cérebro. Sinto-me, por este motivo, muito embaraçado para pronunciar-me sobre o valor moral da obra. Nossos escritores dirão que me preocupo muito com isso. Não admitem, bem o sei, que esse elemento possa ser levado em conta na apreciação de uma obra de arte; como se alguma coisa existisse, no mundo, independente do valor moral! Os autores russos são menos soberbos, nutrem sempre o propósito de alimentar as almas, e a maior injúria que se lhes pode fazer é dizer-lhes que reuniram palavras sem servir a uma idéia. O romance de Dostoievski poderá ser tido como eficaz ou prejudicial, segundo o ponto de vista em que nos colocarmos, a favor ou contra a moralidade das execuções e dos processos públicos. A questão é da mesma ordem. Para mim ela será resolvida pela negativa.” (O romance russo. Melchior de Vogué. Editora A Noite.)

2. “Después de la figura de ‘el hombre del subsuelo’, Raskólnikov fue el primer protagonista de Dostoievsky, en el que se puede ver la proyección de las ideas del autor en el proceso de clarificación que él buscó en la realización artística de ellos. Casi podríamos decir que el escritor imaginó el personaje de Razumíchin, el amigo de Raskólnikov, para por medio de él caracterizar mejor a su héroe; pero en el desarollo de la novela, éste, además de definirse por sus acciones, se define también por el prolongado duelo dialéctico que tiene, antes de confesar, con el juez instructor Porfíri Petróvich, acerca del derecho a cometer un delito por el bien de la humanidad, delito que el juez define como ‘fruto de un corazón irritado teóricamente’. La idea de Raskólnikov no era literariamente una novedad, pero es difícil saber si con Raskólnikov, Dostoievsky pretendia hacer un paralelo ruso al problema ya expuesto por Balzac en Père Goriot con el dilema de Rastignac sobre si un hombre tiene el derecho de realizar un pequeño mal a fines de un gran bien o, en forma más parecida a la de Dostoievsky, de matar a un ser nulo y nocivo para dar la felicidad a otros muchos buenos que de otro modo se perderían. Para mostrar claramente su idea, Dostoievsky hace razonar extensamente a su héroe acerca de Napoléon, tanto que la crítica rusa habló de la ‘idea-Napoleón’ en base a una relación puramente conjetural entre Dostoievsky y Nietzsche, debida a la admiración que el filósofo del superhombre tuvo por el autor de Crimen y castigo.” (La literatura rusa moderna. Ettore Lo Gatto. Losada.)

3. “As doutrinas dos niilistas russos, ponto de partida do autor, só podem ser consideradas desinteressantes se as julgarmos em termos de algum horizonte filosófico mais amplo; mas a genialidade de Dostoiévski permitiu-lhe elevá-las a alturas artísticas comparáveis às maiores criações da tragédia grega e elisabetana. Seus romances são, como há muito tempo os chamou Viatcheslav Ivánov, ‘romance-tragédia’ tanto em sua técnica cênica quanto na força intransigente com que anunciam o choque de alternativas morais e religiosas conflitantes. Todavia, essas alternativas derivam dos conflitos socioculturais da própria época e lugar do romancista; e, se estamos interessados em entender Dostoiévski mais do que os numerosos meios pelos quais tomou consciência do mundo moderno, é indispensável tomar essas origens como nosso ponto de partida interpretativo. De outro modo, estamos sujeitos a nos extraviar tristemente na avaliação dos sentidos que ele quis transmitir e até mesmo a não entender as estruturas artísticas pelas quais esse sentido é comunicado.” (Dostoievski – Os anos milagrosos – 1865 a 1871. Joseph Frank. Edusp.)


Seleção: Professor Nicotti

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