domingo, 29 de agosto de 2010

Um pouco de Ernest Hemingway

Ernest Hemingway é uma das figuras mais reconhecidas do Século XX por sua genialidade literária, mas não apenas. Tornou-se uma representação quase mítica de virilidade: bebedor pesado, conquistador, caçador, pescador de mares profundos, aficionado por touradas, e um boxeador de socos intempestivos, dentro e fora do ringue. (...) Em especial, no que concerne ao escritor, sua vida pública era tão plena de experiências, seu mundo interno tão complexo, e ambos tão bem documentados, que é fácil perder o norte navegando em seu passado. Integrar os diversos elementos que influenciaram sua vida psíquica é uma tarefa desafiante, tendo em vista a história familiar conturbada, os estressores psicossociais e o contínuo consumo de álcool que preencheram sua vida.
No que concerne ao trajeto do escritor, sua correspondência pessoal é plena de relatos dos estados de humor anormais que sofrera. Por exemplo, em uma carta de Hemingway para John dos Passos, ele relata em mais detalhes sua experiência depressiva: “Senti aquele gigantesco e sangrento vazio e o nada. Como se não pudesse mais sentir prazer, lutar, escrever, e tudo fosse morte”. Mas a depressão não era o único estado de humor anormal que o escritor experimentava. O primeiro maior biógrafo de Hemingway, um homem que o conhecera em vida, referia-se a ele como um “maníco-depressivo temperamental”, e escrevera que “o pêndulo em seu sistema nervoso oscila periodicamente um arco completo da megalomania á melancolia”(Baker, 1969). Mais tarde, outro biógrafo referiu: “seu humor oscilava tão rapidamente de baixo para cima e então para baixo de novo que alguém poderia quase afirmar que ele estivesse simultaneamente efusivo e deprimido”.(Lynn, 1987).
Oscilações de humor permearam a vida de Ernest Hemingway, e também sua produção literária. Em grande parte do tempo, o escritor apresentou também dependência de álcool, circunstâncias familiares marcadas por instabilidade em suas relações afetivas decorrentes tanto do transtorno de humor quanto do consumo de álcool, traumas encefálicos graves, geralmente em vigência da substância, e uma recorrente idéia de morte, que o perseguia desde o suicídio do pai1. Referia: “Emprego um tempo considerável em matar os animais para não ter de me matar”, mencionando seu envolvimento com a caça, desde a juventude, e, de certo modo, a concomitante presença do suicídio em sua vida, também presente desde então. Terminou por suicidar-se em 1961, já com importante declínio de suas capacidades literárias, de sua funcionalidade e da saúde física, cumprindo, talvez, mais um passo de sua predisposição familiar para o suicídio.
Referência
1) Martin C.D. Ernest Hemingway: a Psychological Autopsy of a Suicide. Psychiatry 2006; 69:351-361
Betina Mariante Cardoso

Ernest Hemingway em setembro

Os cavalos são ótimos. (...) Os cavalos fizeram que Pablo se sentisse rico- e pensasse em gozar a vida(...). Esta idéia distraiu o moço. Fê-lo sorrir. Com os olhos pregados nas costas curvadas dos dois carregadores que o precediam, marchava firme por entre as árvores. Não tinha tido uma idéia alegre o dia inteiro, e aquele caso o divertia. ‘Você está ficando como os outros’, disse de si para si. ‘Também anda caindo na melancolia’.(...) ‘Todos os bons e firmes são alegres, refletiu Jordan. Muito melhor ser alegre- sinal de uma coisa: de que se é imortal enquanto se está vivo. Uma coisa complicada, já não há muitos assim. A maior parte dos lutadores joviais desapareceram. Restam pouquíssimos. E se continuar a pensar nisso, meu rapaz, você também desaparecerá. Mude de idéias, meu caro. Nesse instante você não passa de um mero instrumento de explodir pontes.(...)”
“Por Quem os Sinos Dobram”
Ernest Hemingway

sexta-feira, 30 de julho de 2010

“Vautrin tem razão; a fortuna que é a virtude.”
"O Pai Goriot", Balzac
“— Paris então é um pântano?
— E um curioso pântano — replicou Vautrin. — Aqueles que se enlameiam de carruagem são pessoas de bem; os que se enlameiam a pé são tratantes. Quem tiver a infelicidade de deitar a mão a uma ninharia será exibido na praça do Palácio da Justiça como curiosidade. Se roubar um milhão, será apontado nos salões com uma virtude. Pagamos trinta milhões à Polícia e à Justiça para manter esta moral… Bonito!”

Vautrin, em "Pai Goriot", Balzac
“Um homem que se gaba de nunca mudar de opinião é uma pessoa que se dedica a caminhar sempre em linha reta, um tolo que crê na infabilidade. Não há princípios, só há acontecimentos; não há leis, só há circunstâncias: o homem superior liga-se aos acontecimentos e às circunstâncias para manobrar. Se houvesse princípios e leis fixas, os povos nunca as mudariam como mudamos de camisa.”
Vautrin, em "Pai Goriot"
Balzac
“Se lhe posso dar um conselho, rapaz, é o de reter tanto as suas opiniões como a sua palavra. Quando lhas pedirem, venda-as.”
Vautrin, em 'Pai Goriot", Balzac

A Casa Vauquer

Começa a ser apresentada no primeiro capítulo da narrativa cujo título já lhe faz referência (“Uma pensão burguesa”), possuindo um papel fundamental no romance, pois é neste espaço que a grande parte das ações se desenvolve.
O espaço da pensão Vauquer assume duas funções importantes na narrativa: a de fornecer indícios que antecipam características das personagens que ali habitam; e a de estabelecer uma “ancoragem” da narrativa no “real”.
3.1 Espaço como indício da caracterização das personagens
A apresentação do espaço da pensão Vauquer, ao longo do primeiro capítulo da narrativa, fornece indícios que permitem fazer inferências sobre algumas características dos indivíduos que ali habitam. As referências espaciais apresentadas criam um saber que será refletido sobre as personagens, dando indicações que permitem, de antemão, avaliá-las e as definir socialmente de maneira indireta.
Ao iniciar o capítulo intitulado “Uma pensão burguesa”, temos a primeira referência ao tipo de hóspedes que essa casa abriga: burgueses. Contudo, ainda não é possível afirmar a classe social à qual pertencem. No decorrer do primeiro parágrafo, o narrador nos relata que “essa pensão aceita igualmente homens e mulheres, moços e velhos, sem que jamais a maledicência tenha atacado os costumes desse respeitável estabelecimento” (BALZAC, 1989, p. 23). Assim apresentada, espera-se que as personagens, que ali residam, sejam de ambos os sexos e de idades diversificadas.
Entretanto, na sequência do parágrafo, o narrador nos diz: “é verdade que há trinta anos não se via ali uma moça, e que para um rapaz morar ali era preciso que a família lhe desse uma mesada muito pequena. Em 1819, porém, época em que este drama começa, vivia lá uma pobre moça” (BALZAC, 1989, p.23). A ausência de moças em um local que as aceita remete à falta de condições favoráveis para recebê-las, ou seja, instalações que não estão adequadas a sua presença. E o fato de um jovem somente se hospedar nessa casa se não tiver recursos para pagar uma melhor, define o tipo de classe social que ali habita: classe econômica baixa. Se o local é habitado somente pela classe baixa, se as moças o evitam, se é o último recurso para um jovem, consequentemente pode-se inferir que a estrutura é precária.
A percepção sobre a classe econômica que aluga as dependências da Casa Vauquer confirma-se com as descrições sobre a localização desta. Após indicar a localização geográfica (“Está situado na parte baixa da rua Nova de Santa Genoveva, no ponto em que o terreno se inclina para a rua da Besta de maneira tão íngreme que raramente os cavalos sobem ou descem” - BALZAC, 1989, p. 24), dando ênfase para o aspecto íngreme que afasta o tráfego de cavalos, o narrador, ao reforçar a dificuldade de acesso, reforça também a perspectiva sobre a situação financeira dos hóspedes que ali se alojam. Este aspecto é mais uma vez reiterado, quando, ao longo do mesmo parágrafo, o narrador nos relata:
O homem mais despreocupado ali se sente constrangido, os transeuntes mostram-se tristes, o ruído de uma carruagem transforma-se num acontecimento, as casas parecem taciturnas, as paredes lembram uma prisão. Um parisiense que por lá se perdesse veria apenas pensões burguesas ou instituições, miséria ou tédio, velhice que morre, alegre mocidade aprisionada, forçada a trabalhar. Nenhum bairro de Paris é mais horrível e, digamos de passagem, mais desconhecido. (BALZAC, 1989, p.24)
O sentimento de constrangimento por parte de um homem despreocupado, o fato de o local estar rodeado por “miséria e tédio”, de haver “velhice que morre” e “mocidade aprisionada”, criam uma gradação que remete à pobreza do lugar, que culmina com o vocábulo “horrível”, reforçando a impressão de miséria e precariedade extremas. Após a apresentação da localização geográfica, o narrador apresenta a descrição da estrutura externa, relatando alguns detalhes que antecipam as características psicológicas das personagens como, por exemplo, a descrição seguinte:
Sob a concavidade que essa pintura simula, eleva-se uma estátua representando o Amor. Ao verem o verniz cheio de falhas que a cobre, os amadores de símbolos descobriram nela, talvez, um mito do amor parisiense que se cura a alguns passos dali. Sob o pedestal, esta inscrição meio apagada recorda a data desse ornamento, pelo entusiasmo que testemunha por Voltaire, ao voltar a Paris em 1777: “Seja quem fores, eis teu dono:/ Ele o é, ou foi, ou há de sê-lo”. (BALZAC, 1989, p.25)
Nesta descrição, o verniz cheio de falhas da estátua do Amor oportuniza a inferência de que os hóspedes que vivem na Casa Vauquer não são indivíduos que possuam ilusões acerca do amor inocente e extremado, pois as falhas simbolizam algo que já foi utilizado, mas que perdeu seu vigor, que se desgastou. Tais deficiências do verniz somadas a “os amadores de símbolos descobriram nela, talvez, um mito do amor parisiense que se cura a passos dali” reforçam tal ideia. A inscrição gravada ao pé da estátua demonstra que, apesar de desgastado e falhado, o amor é um ”ser” que subjuga a todos: ”Seja quem fores, eis teu dono:/ Ele o é, ou foi, ou há de sê-lo”. Então, cria-se a perspectiva de que as personagens que habitam a Casa Vauquer de alguma forma passaram ou passarão por experiências amorosas mal sucedidas, sendo esta uma característica psicológica.
Ainda quanto às informações que podem ser apreendidas do espaço em relação às personagens, está a referência ao descaso e à sujeira da estrutura interna da pensão, o que remete ao aspecto da precariedade apontado anteriormente. Este aspecto é diretamente relacionado, pelo narrador, às roupas que portam os hóspedes da pensão: “o espetáculo desolador que oferecia o interior da casa se repetia, do mesmo modo, nas roupas dos moradores, igualmente arruinados” (BALZAC, 1989, p.30), estabelecendo, assim, uma relação de igualdade entre o aspecto da Casa Vauquer e o aspecto das personagens.
3.2 Relações do espaço com o “real”
Nesta narrativa, outra função que pode ser atribuída ao espaço da Casa Vauquer é a função mimética, ou seja, as referências espaciais produzem uma ilusão de realidade, estabelecendo uma relação entre o texto e o extratexto. Ao iniciar o primeiro capítulo, o narrador tenta estabelecer um “pacto de verdade” com o leitor ao utilizar a expressão “All is true” (BALZAC, 1989, p.24) para referir-se à narrativa que irá contar. Tal “pacto” não permanece apenas nessa afirmativa de “verdade”, o conjunto de descrições que segue este enunciado o fortalecerá.
No parágrafo seguinte, buscando localizar com maior precisão a pensão, o narrador revela:
O prédio da pensão burguesa pertence à sra. Vauquer. Está situado na parte baixa da rua Nova de Santa Genoveva, no ponto em que o terreno se inclina para a rua da Besta de maneira tão íngreme que raramente os cavalos a sobem ou descem. Dessa circunstância resulta o silêncio que reina nessas ruas, apertadas entre o zimbório do Val-de-Gracê e o zimbório do Panthéon, dois monumentos que alteram as condições da atmosfera, lançando nela tons amarelados e cobrindo tudo ali com uma sombra por efeito dos tons severos que suas cúpulas projetam. (BALZAC, 1989, p.24)
Neste fragmento, o narrador situa geograficamente a pensão da sra. Vauquer na cidade de Paris. Para isso, utiliza-se de elementos como “parte baixa da rua Nova de Santa Genoveva”; “rua da Besta”; “zimbório do Val-de-Gracê”; “zimbório do Panthéon”, existentes no real, propiciando, assim, que o romance remeta a um saber cultural recuperável fora dele. Esses lugares “ancoram” o romance no real, produzindo a impressão que são um reflexo deste.
Após a localização geográfica, o narrador inicia a apresentação da estrutura da pensão, sendo esta estabelecida do exterior (fachada, jardins, pátios, etc.) para o interior (primeiro pavimento, distribuição dos cômodos, etc.), criando uma impressão de movimento, como se fosse possível acompanhar o olhar do observador. Ao iniciar a descrição da fachada, o narrador aponta:
A fachada da Casa Vauquer dá para um jardinzinho, de modo que fica em ângulo reto sobre a rua Nova de Santa Genoveva, de onde aparece em todo o comprimento. Ao longo dessa fachada entre a casa e o pequeno jardim, corre uma calha de pedra, de uma toesa de largura, diante da qual há uma aleia coberta de areia e orlada de gerânios, louros-rosa e romãzeiras, plantados em grandes vasos de louça azul e branca. (BALZAC, 1989, p. 25)
Nesse trecho, o elemento “rua Nova de Santa Genoveva” é retomado, fortalecendo a impressão de “real” criada pelas menções anteriores. Ocorre, ainda, a agregação de componentes da estrutura física da casa, como a fachada, o jardim, a calha de pedra, a aleia, à narrativa. Tais informações configuram uma descrição que se utiliza de detalhes buscando precisão, de modo que seja possível fortalecer o vínculo com a “realidade”, produzindo um efeito “realista” na obra. Esse efeito é reforçado à medida que se amplia o número de detalhes apresentados como, por exemplo, a enumeração das plantas que orlam a aleia no trecho acima (“gerânios, louros-rosa e romãzeiras”) e a precisão da medida de largura da calha (”uma toesa de largura”).
Ao continuar a apresentação externa da pensão, o narrador, nos dois parágrafos subsequentes à descrição da fachada, apresenta a aspectualização da entrada da casa da sra. Vauquer durante o dia e durante a noite, enfocando as mudanças entre esses dois espaços de tempo:
Durante o dia, uma porta com claraboia e campainha estridente deixa perceber, ao fim da pequena calçada, na parede oposta à rua, um arco com a pintura imitando mármore verde, obra de um artista do bairro. Sob a concavidade que essa pintura simula, eleva-se uma estátua representando o Amor. Ao verem o verniz cheio de falhas que a cobre, os amadores do símbolo descobriram nela, talvez, um mito do amor parisiense que se cura a alguns passos dali. (...)
Ao cair da noite, a porta da claraboia é substituída por uma inteiriça. O jardinzinho, que tem o comprimento da fachada, acha-se metido entre o muro da rua e a parede da casa vizinha, ao longo da qual pende um manto de hera que a oculta inteiramente e atrai o olhar dos transeuntes por oferecer um aspecto muito pitoresco em Paris. (...) Ao longo de cada parede corre uma alameda estreita, de cerca de 21 metros, que leva a um caramanchão de tílias (...). (BALZAC, 1989, p. 25-26)
Neste trecho, as menções “durante o dia” e “ao cair da noite”, somadas às referências espaciais, reforçam o caráter de “real”, pois “ancoram” não só o espaço, mas também o tempo da narrativa na “realidade”. A presença de detalhes como “o verniz cheio de falhas”, “pende um manto de hera que a oculta inteiramente”, “corre uma alameda estreita, de cerca de 21 metros” também reiteram tal caráter, pois a menção de pormenores cria um efeito de particularidade ao cenário descrito, individualizando-o e diferenciando-o.
A seguir, o narrador passa da apresentação externa da pensão para a interna, iniciando pelo andar térreo e por seus cômodos, descrevendo a sala de estar e a sala de refeições:
Essa sala de estar comunica com uma sala de refeições, separada da cozinha pelo vão de uma escada com degraus de madeira e tijolos pintados e encerados. Nada é mais triste à vista que essa sala mobiliada com poltronas e cadeiras estofadas com crinas, com riscas alternativamente opacas e luzidias. Ao centro, vê-se uma mesa redonda com tampo de mármore de Sainte-Anne, enfeitada com esse licoreiro de porcelana branca e ornada de filetes dourados meio apagados, que se vê por toda a parte hoje em dia. Essa sala, muito mal assoalhada, tem as paredes revestidas de madeira até uma certa altura. (...) Pois bem, apesar de todos esses horrores, se a comparardes à sala de refeições, que fica ao lado, achareis essa sala de estar elegante e perfumada como o quarto de vestir de uma senhora. Essa sala, inteiramente forrada de madeira, foi, outrora, pintada com uma cor agora indistinta, que constituiu um fundo sobre o qual a imundície se acumulou em camadas, de maneira a desenhar figuras bizarras. (BALZAC, 1989, p. 26-27)
Essa seleção de elementos e de objetos feita pelo narrador contempla aspectos da sala de refeições e da sala de jantar da pensão, peças essas normalmente frequentadas pelos hóspedes. A apresentação desses cômodos reveste-se de realismo, à medida que os detalhes são mencionados. A maneira como a descrição é realizada, possibilita ao leitor que se ponha no interior de cada uma das salas e direcione seu olhar para os móveis, objetos e demais particularidades que o narrador aponta. O detalhamento e a riqueza de pormenores permitem que se resgatem conhecimentos de fora do texto, estabelecendo, mais uma vez, uma ilusão de “real”.
No decorrer do primeiro capítulo, o narrador passa a descrever, além do térreo, os demais andares que constituem a Casa Vauquer:
O primeiro andar continha os melhores aposentos da casa. (...) Os dois aposentos do segundo andar (...) O terceiro andar compunha-se de quatro quartos (...) Por cima do terceiro andar havia um telheiro para estender a roupa e duas mansardas(...) (BALZAC, 1989, p.29)
Esse trecho cria uma nova impressão de movimento que agora se direciona de baixo pra cima, indo do térreo ao telheiro. A enumeração dos andares e do telheiro reitera o caráter de “real”, pois salienta características estruturais da pensão. A partir dessa apresentação, serão introduzidas as personagens na narrativa, elemento que optamos por não analisar neste trabalho.


Fonte: © Ana Paula Cantarelli 2009
Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid
El URL de este documento es http://www.ucm.es/info/especulo/numero43/cavauque.html
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) - Brasil

Organização do Romance


O romance O pai Goriot, de Honoré de Balzac, está dividido em seis capítulos: “Uma pensão burguesa”; “As duas visitas”; “A entrada na sociedade”; “Engana-a-Morte”; “As duas filhas”; “A morte do pai”. A narrativa é realizada em terceira pessoa por um narrador que controla todo o saber, sem limitações de profundidade externa ou interna, tendo acesso a todos os lugares, bem como ao passado, presente e futuro. Sua visão é ilimitada.
A narrativa inicia com a descrição da sra. Vauquer e de sua pensão, espaço este em que se desenvolverá a maior parte dos acontecimentos. Em seguida, um a um, os sete pensionistas internos são apresentados, entre eles o protagonista pai Goriot, que dá nome à obra. Goriot é um burguês, ex-comerciante, que enriqueceu com a especulação da venda de trigo, porém, no tempo da narrativa, não passa de um espectro daquilo que havia sido.
Goriot é pai de duas filhas (Delfina e Nastácia), que raramente o visitam. Ambas são casadas com homens ricos, mas, apesar da riqueza de seus maridos, as filhas pedem auxílio financeiro ao pai, o que o leva a desfazer-se, pouco a pouco, de seus bens, chegando a mais completa penúria.
Eugênio de Rastignac, outro morador da pensão, é um jovem provinciano, estudante de Direito, que busca ascender socialmente. Para isso, usa da influência de sua prima, senhora de Beauséant, que o introduz nas altas rodas francesas. Assim, conhece as filhas de Goriot, e através do envolvimento com Delfina, que se torna sua amante, toma conhecimento da exploração que o velho sofre por parte delas. Devido a esse envolvimento, ocorre uma aproximação entre Eugênio e Goriot.
Vautrin, outro hóspede da pensão, percebe a ambição de Eugênio e tenta persuadi-lo a participar de um plano, no qual ele (Vautrin) encomendaria a morte do irmão de Vitorine (outra hóspede da pensão). Com o irmão morto, Vitorine herdaria toda a fortuna do pai. Caberia, então, a Eugênio a tarefa de seduzi-la, casando-se com ela e tomando posse de sua fortuna. Contudo, ele, apesar de indeciso em alguns momentos, acaba por recusar.
Ao longo da narrativa, Eugênio se compadece da forma como as filhas tratavam Goriot, e quando este adoece é Rastignac quem o auxilia. Somente nos seus últimos momentos de vida, é que Goriot percebe que havia sido abandonado pelas filhas, às quais só interessava seu dinheiro. Após a morte do velho, quem toma as providências para seu funeral é Eugênio, pois Delfina e Nastácia sequer comparecem ao enterro. A narrativa termina com Eugênio considerando-se pronto, após suas experiências com Goriot e suas filhas, para fazer parte da sociedade parisiense.
Fonte: © Ana Paula Cantarelli 2009Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de MadridEl URL de este documento es http://www.ucm.es/info/especulo/numero43/cavauque.html
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) - Brasil
anapaula_cantarelli@yahoo.com.br

Le Pére Goriot
Honoré de Balzac, Old Goriot. Philadelphia: George Barrie & Son, 1897
Autor
Honoré de Balzac
Título no Brasil
O PAI GORIOT
País
França
Gênero
Realismo
Série
A Comédia Humana
Lançamento 1835

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Conhecendo 'O Pai Goriot"

Pai Goriot
Romance de Honoré de Balzac (1834-35), com o título original Père Goriot, pertencente à série "Cenas da Vida Privada". O amor desmesurado de Goriot pelas duas filhas e o abandono a que estas o votam é testemunhado por Eugène de Rastignac, jovem provinciano em busca de um lugar na melhor sociedade parisiense.

Resenha L&PM

Dando prosseguimento à publicação de A comédia humana,a monumental obra de Honoré de Balzac (1799-1850), a L&PM Pocket está colocando nas livrarias O pai Goriot. A comédida humana é o título geral que dá unidade aos 89 romances, novelas e histórias curtas que compõem este grande painel do século XIX, ordenado pelo autor em três partes: “Estudos de costumes”, “Estudos analíticos” e “Estudos filosóficos”. A maior delas, “Estudos de costumes”, com 66 títulos, subdivide-se em seis séries temáticas: Cenas da vida privada (na qual se incui O pai Goriot), Cenas da vida provinciana, Cenas da vida parisiense, Cenas da vida política, Cenas da vida militar e Cenas da vida rural.
Com O pai Goriot, Balzac inaugura o procedimento que se tornou uma das marcas de A comédia humana: o retorno dos personagens nos romances seguintes, ora como protagonistas, ora como coadjuvantes. Esse é o caso, por exemplo, das filhas do pai Goriot, Delphine e Anastasie, que participam de variadas histórias.
Em O pai Goriot, o personagem-título é tratado com desdém pelos outros locatários da pensão da senhora Vauquer. Antigamente um senhor de posses que enriquecera durante a Revolução Francesa, Goriot cria as duas filhas sozinho depois da morte da mulher. Rodeadas de luxo, as irmãs casam e se tornam, respectivamente, condessa de Restaud e baronesa de Nucingen. Goriot, agora velho e falido, é apenas uma má lembrança da origem das moças, que, para evitar os mexericos parisienses, escondem o pai.
Mas, na pensão, dois moradores se diferenciam desse ambiente repleto de pessoas sem futuro. São eles o cínico Vautrin e Eugène de Rastignac, estudante de Direito que acaba se aproximando do pai Goriot. Rastignac é um jovem ambicioso, que, assim como as filhas de Goriot, também quer usufruir do “ouro e do prazer” que Paris oferece a um grupo de privilegiados, e para isso conta com a ajuda do misterioso Vautrin. Essa busca insaciável de Eugène por um lugar de destaque na sociedade francesa expõe, de forma mais ampla, as variadas facetas da condição humana quando essa sucumbe aos domínios do poder. O pai Goriot é um dos mais famosos romances de Balzac. Juntamente com Ilusões perdidas e Esplendores e misérias das cortesãs é considerado o segmento fundamental da espantosa obra de Honoré de Balzac.

Sobre a Obra "O Pai Goriot", de Balzac

O pai Goriot é considerado pelos críticos, juntamente com As ilusões perdidas e Esplendor e miséria das cortesãs a espinha dorsal da extensa obra de Balzac. É em O pai Goriot que o leitor é apresentado a dois das personagens mais celébres do escritor, Eugène Rastignac e Vautrin.
A história centra-se, mormente, apesar do título, na figura de Rastignac. O jovem apoiado pela família de camponeses muda-se para a capital francesa no intuito de estudar Direito. Assim, hospeda-se na pensão da Senhora Vauquer. No local, o jovem trava contato com um estudante de medicina, com Vautrin — um quarentão que vai tentar fazer com que ele veja o mundo doutra maneira — e Goriot. Esse último é um dedicado pai que faz sacríficios inimagináveis por suas filhas. Eugène, no início de sua estada em Paris, leva a sério os estudos, porém essa sede pelo conhecimento jurídico é deixada de lado assim que ele passa almejar uma alta posição na sociedade pariesiense que se dá por meio de dinheiro e indicações. O leitor, ao ler O pai Goriot, notará que Balzac soube captar com maestria a consolidação da burguesia no início dos oitocentos. E, aqueles que gostam de História verão que a burguesia francesa, após a revolução que eclodiu no fim dos setecentos, procurava agir com códigos semelhantes ao da aristocracia; a diferença crucial, porém, é que na sociedade pós-revolucionária o sangue azul não tinha o mesmo valor que o vil metal.
Desviei-me do caminho, retorno, então, ao enredo. Pois bem, Rastignac para galgar posições na sociedade de Paris pede ajuda à prima, uma mulher rica que lhe apresentará, tal como faz Vautrin, os atalhos para colocar-se como um homem célebre no meio burguês. É através dessa parente que o rapaz toma conhecimento de que pai Goriot é pai de duas mulheres ricas da capital francesa. Não entrarei em mais detalhes, pois senão acabarei contando boa parte dos factos que permeiam a história.
Posso dizer que O pai Goriot possuí uma força incrível, a pluralidade de vozes que atravessa o romance demonstra a força de Balzac. O narrador e Vautrin proferem frases que vão desde à filosófia ao discurso científico que estava a brotar no início do século XIX.
Há de se ressaltar também Paris; a cidade, além de ser o palco para as ações do romance, é com certeza a personagem central de várias obras que compõe A comédia humana, em O pai Goriot, isso não poderia ser diferente. A pólis é descrita tanto em sua miséria (a pensão da Senhora Vauquen), bem como no luxo. Porém, esse detalhamento da pobreza não é tão agressivo como nas obras de Zola. Entretanto, já vemos, a partir, dessas descrições como seria a prosa francesa no restante do século XIX.
Ao ler Balzac, sinto-me como se estivesse acompanhando um seriado com várias temporadas, um seriado enorme, uma vez que A comédia humana conta com cerca de 1.300 personagens. Ao longo da leitura, algumas delas aparecem ora como protagonistas, ora como coadjuvantes. É leitura imperdível!

O Pai Goriot, Balzac


Trecho de 'O Pai Goriot", Balzac


“Logo aparece a viúva, ataviada com sua touca de tule da qual escapam os cabelos de uma peruca mal colocada [...]. Seu rosto velhote, gorducho, do meio do qual sai um nariz de papagaio, suas mãozinhas rechonchudas, sua pessoa roliça como um rato de igreja, seu corpete cheio demais e flutuando, combinam com a sala que recende a desventura, onde a especulação se insinuou e cujo ar quente e fétido a senhora Vauquer respira sem ficar enojada. [...]Enfim, toda a sua figura explica a pensão, como a pensão implica sua figura.”

terça-feira, 27 de julho de 2010

Trecho de "O Pai Goriot", de Balzac



“Ser jovem, ter sede de alta sociedade, estar faminto por uma mulher e ver duas casas abrirem-se para ele! Colocar os pés no faubourg Saint-Germain ao ir à casa da viscondessa de Beauséant, os joelhos na Chaussée-d’Antin ao ser convidado para a casa da condessa de Restaud! Num relance mergulhar de enfiada nos salões de Paris, e acreditar-se bonito o bastante para ali encontrar ajuda e proteção de um coração de mulher! Sentir-se ambicioso o suficiente para dar um magnífico pontapé na corda bamba sobre a qual é preciso caminhar com a segurança de um saltimbanco que não vai cair, e encontrar em uma mulher encantadora a melhor das varas de equilibrista!”

domingo, 25 de julho de 2010

Trecho de "O Pai Goriot", de Balzac






“Após sacudir os galhos da árvore genealógica, a velha senhora concluiu que, de todas as pessoas que poderiam ajudar seu sobrinho, dentre a raça egoísta dos parentes ricos, a senhora viscondessa de Beauséant seria a menos recalcitrante. Escreveu à jovem dama uma carta no estilo antigo e entregou-a a Eugène, dizendo-lhe que, se fosse bem-sucedido junto à viscondessa, ela poderia auxiliá-lo a encontrar-se com os outros parentes. Poucos dias depois de chegar, Rastignac enviou a carta da tia à senhora de Beauséant. A viscondessa respondeu com um convite para um baile no dia seguinte.”


Sobre o romance "O Pai Goriot"


Em 1834 Balzac escrevia a sua futura esposa: “Uma coisa que você não espera é O pai Goriot, uma obra-prima. A pintura de um sentimento tão grande que nada o esgota, nem os atritos, nem as feridas, nem as injustiças, um homem que é pai como um santo, um mártir e um cristão”. Quanto à “obra-prima”, Balzac está coberto de razão. Quanto à descrição do romance, por outro lado, ele não chega nem perto de mostrar toda a sua abrangência.
O pai Goriot é um verdadeiro cruzamento de intrigas e de personagens. Além do personagem-título descrito por Balzac, deparamo-nos com um universo que abarca desde o submundo do crime — representado por um Vautrin misterioso e tentador —, até os toucadores das damas da alta sociedade. Mas o verdadeiro protagonista da ação é Eugène de Rastignac, jovem estudante provinciano almejando sucesso na sociedade parisiense que acaba de descobrir. Trata-se com efeito de um romance de formação no sentido mais estrito da expressão: a aprendizagem da vida social na Paris do século XIX.
Aqui os personagens são criaturas de grande complexidade que vão acabar por formar a base de sustentação de toda a Comédia humana. Com este romance, Balzac inaugura o procedimento do “retorno de personagens”, pelo qual muitos nomes vão ressurgir em diversos outras obras como figuras centrais ou secundárias (é o caso, por exemplo, de Vautrin que, em As ilusões perdidas, tem um papel fundamental na ruína de Lucien de Rubempré). De forma que O pai Goriot acaba servindo como chave psicológica de obras menos cotadas do autor.
O cerne do romance se encontra, portanto, tanto nos dramas pessoais quanto no jogo das relações humanas, nas disputas pelo poder e na conquista de suas ambições, que se apresentam com uma crueza quase imoral — ao menos para os padrões da época: “Veja, o senhor nada será se não despertar o interesse de uma mulher. Precisará de uma jovem, rica, elegante. Mas, se tiver um sentimento verdadeiro, esconda-o como um tesouro; jamais deixe alguém desconfiar dele, pois estará perdido. Deixaria de ser o carrasco para tornar-se a vítima”, sugere a Rastignac a senhora de Beauséant, sua protetora.
Nesse universo — “esgoto moral de Paris”, como apontaram os críticos de Balzac — a aprendizagem do jovem e ingênuo Rastignac precisa passar por diversas tentações, corrupção e até o assassinato. Balzac, precursor do romance moderno e do realismo, não pretende apenas “fazer poesia”. Seu objetivo é maior, a própria concepção de uma Comédia Humana é a prova: ele busca esmiuçar a sociologia da cidade e as opções oferecidas a jovens como Rastignac na vida mundana. Por isso adverte seus leitores que, “após ler os infortúnios secretos do pai Goriot, [o leitor] jantará com apetite, atribuindo sua própria insensibilidade ao autor, taxando-o de exagerado, acusando-o de poesia. Mas que fique claro: este drama não é ficção nem romance. All is true, e é tão verdadeiro, que todos poderão reconhecer os elementos dentro de si, talvez em seu coração”.

Sobre O Pai Goriot, de Balzac






Le Pére Goriot (O Pai Goriot, em português) é um romence de Honoré de Balzac.
Talvez o mais conhecido romande da
Comédia Humana de Honoré de Balzac (1799 - 1850), Le Pére Goriot, publicado pela primeira vez em 1835.
Le Pére Goriot compõe os "Estudos dos Costumes - Cenas da Vida Privada" da
Comédia Humana, monumental obra composta por 89 romances, novelas e outras histórias, de um projeto ainda mais audacioso, de uma obra de 137, conforem seu "Catálogo do que Conterá" a Comédia Humana, de 1845.
Engels, companheiro de Karl Marx, certa vez declarou acerca da obra de Balzac: "Aprendi mais em Balzac sobre a sociedade francesa da primeira metáde do século XIX, inclusive nos seus pormenores econômicos (por exemplo, a redistribuição da propriedade real depois da Revolução Francesa) do que todos os livros de historiadores, economistas e estatísticos da época, juntos" (Carta a Margaret Harkness).


Fonte: wikipedia

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Excelente contribuição de Susana Espindola

Prezada Léa,

Adorei nosso encontro de sábado, consegui compreender muito do Goethe, seu ambiente e sua relevância, e até de mim mesma. Fruto desta cultura europeia-germânica, pude perceber melhor determinadas ações, atitudes, conceitos com os quais convivi toda minha vida.
Agradeço a ti e, se puderes, transmite meus cumprimentos ao professor.
Lamentavelmente estarei viajando no encontro sobre Balzac.
Beijo e toca em frente com a iniciativa.

Susana Espíndola

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Pai Goriot, de Balzac

Entramos no mês de leitura de "Pai Goriot", de Balzac, para o "Porque hoje é sábado" de 28 de agosto. Em breve, neste blog, apontamentos sobre o livro, o palestrante - escritor e editor Ivan Pinheiro Machado-, o contexto histórico e cultural em que nasceu a obra e aspectos relevantes sobre as traduções no Brasil.
O "Porque hoje é sábado" já está acontecendo no Instituto Cultural Brasileiro Norte Americano, na Riachuelo, 1257.
Acompanhem!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Comunicado especial de Profa. Dra. Léa Masina

Queridos amigos participantes do "PORQUE HOJE É SÁBADO" :

Por motivos de força maior, precisei deslocar o local do nosso evento para o Auditório Érico Veríssimo, do Instituto Cultural Norte-Americano (Riachuelo, 1257, quase em frente à Biblioteca Estadual). Acho que o evento sai ganhando ao ser incorporado à programação do Cultural, uma instituição séria e respeitável, ainda que continue sob minha coordenação.

Desse modo, espero encontrá-los todos no dia 17, às 10 horas, nas dependências do Cultural, onde seremos aguardados no Auditório Erico Veríssimo, para ouvirmos a palestra e a abordagem crítica do Professor Doutor Gerson Neuman sobre a obra de Goethe, com ênfase ao livro "Os sofrimentos do jovem Werther". Por favor, prestigiem e compareçam, é muito importante começarmos essa nova fase com a adesão de muitos leitores e com o famoso "pé direito".

Por favor, confirmem suas presenças comigo, estarei aguardando.

Abraço de

Léa Masina

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Contribuições do Prof. Dr. Gerson Neumann ao 'Porque hoje é sábado"

Johann Wolfgang von Goethe – breve biografia

Johann Wolfgang von Goethe nasceu na cidade de Frankfurt am Main, no dia 28 de Agosto de 1749, e morreu na cidade de Weimar, no dia 22 de Março de 1832. Goethe foi um grande nome da literatura alemã. Além disso, foi um pensador que transitou por diversos ramos das ciências. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX. Juntamente com Friedrich Schiller foi um dos líderes do movimento literário romântico alemão Sturm und Drang. Romances, peças de teatro, poemas, escritos autobiográficos, reflexões teóricas nas áreas de arte, literatura e ciências naturais compõem sua vasta produção literária. Além disso, sua correspondência mantida com pensadores, viajantes e personalidades da época é de grande valor como fonte de pesquisa e análise de seu pensamento. Através do romance Os sofrimentos do jovem Werther, Goethe tornou-se famoso em toda a Europa no ano de 1774. Mais tarde, já na sua fase madura e influenciado por Friedrich Schiller, Goethe se tornou o mais importante autor do Classicismo de Weimar. Goethe é até hoje considerado o mais importante escritor alemão, cuja obra influenciou a literatura de todo o mundo.

Ver:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Wolfgang_von_Goethe
http://www.literaturwelt.com/autoren/goethe.html



Crítica

“[…] Werther não é, simplesmente, um romance em cartas assim como A nova Heloísa de Rousseau ou Pamela de Richardson, modelos desse tipo de romance antes da empreitada goetheana. Nessas obras, embora haja uma personagem principal nítida, são as missivas de vários correspondentes que forjam a narrativa. A obra de Goethe é – no entanto e muito antes – o romance de uma alma, uma história interior, que antecipa, inclusive, a opulência psicológica de Afinidades eletivas, uma das obras-primas do autor. O “eu” mostra-se tão forte, o sujeito se evidencia tão vigoroso no romance, que não permite a aparição escrita dos correspondentes e se assegura tão somente na sua própria opinião. Em Werther todas as cartas são escritas pelo herói e apenas emendadas por um suposto editor. [...]”

Por Marcelo Backes, no Prefácio de Os sofrimentos do jovem Werther, L&PMPocket, 2009, p.8.

sábado, 3 de julho de 2010

Email de Léa Masina

Queridos amigos

Neste mês de julho, nosso encontro do "Porque hoje é sábado" será no dia 17 e não no final do mês, como de costume. Isso foi decidido em função das férias de muitas pessoas que se ausentam na segunda metade de julho.

Assim, venho "convocá-los " a ler, de imediato, o nosso Werther. O palestrante é Doutor em Literatura, com Láurea, pela Universidade Livre de Berlin, além de especialista em Literatura Germânica . Atualmente, Gerson Neuman trabalha na UFPEL e virá a Porto Alegre especialmente para participar do nosso evento.

O clima do Werther é muito romântico e sentimental, com descrições de paisagens da natureza, e repleto de sentimentalismo e idealização. Também há as cartas, que dão um toque especial ao romance. Por causa dessa obra, que foi, de início, proibida na Alemanha, desencadeou-se uma onde de suicídios entre os jovens apaixonados... Hoje, isso parece quase impossível!

Leiam a obra, então, para que o encontro com Gerson faça MUITO SENTIDO. Ela foi recentemente publicada pela Abril e se consegue em bancas de revista por menos de 15 reais.

Um abraço e bom final de semana, vou começar a reler o meu exemplar.

Léa Masina

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Contribuição da Profa. Dra. Léa Masina

"Os sofrimentos do jovem Werther"
OS PERSONAGENS

No começo do romance, sabemos que Werther está feliz fora de casa. Ele lembra de um caso amoroso mal resolvido e depois fala sobre os negócios de sua família. Em suas cartas iniciais a Wilheim, alguém próximo de sua família, ele vai relatando esses dias tranquilos, seus passeios por uma natureza feita sob medida para seu coração contemplativo. Também descreve a sociedade do lugar: as pessoas simples do povo, depois o erudito, que ele trata com algum desdém, e o baile do príncipe com seus nove filhos (um deles, a jovem Charlotte, será justamente a paixão de Werther).

Esse idilio com a natureza parece se espalhar - mesmo que com tintas melancólicas - pelas cartas iniciais do romance. E ele ainda está presente quando Werther conhece Lotte, naquele que ele chama de "o mais encantador espetáculo de toda a minha vida" : cercada de seis crianças, "uma linda jovem de altura mediana, que trajava um simples vestido branco, com laços de fita cor-de-rosa nos braços e no peito". Apartir daí, o leitor acompanha todo o desenrolar desse amor, até seu desenlace trágico, por meio desse registro da subjetividade que é a carta". (IN: Clássicos Abril, 2010)
Vale recordar: o próximo "Porque hoje é sábado" será no dia 17 de julho!

sábado, 26 de junho de 2010

"Os sofrimentos do jovem Werther"

O próximo "Porque hoje é sábado" será em 17 de julho, sobre o livro "Os sofrimentos do jovem Werther", de Goethe, com palestra de Prof. Dr Gerson Neumann . Acompanhe o blog para conhecer aspectos relevantes sobre a obra, o contexto histórico e cultural em que está inserida, e o autor.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mensagem de Léa Masina

Queridos amigos

Escrevo para insistir com os leitores que estiverem em dúvida: venham assistir ao encontro de sábado com o Ricardo Barberena, sobre "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde. É imperdível! E mesmo quem não veio antes, não há problema, pois não há continuidade. Basta dizer que virão .É das 10 às 12 no salão de festas do meu prédio (Marquês do Herval 315).

Um abraço a todos,


Léa

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Contribuição da Profa. Dra. Léa Masina

Queridos leitores de "O Retrato de Dorian Gray":

Não faltem, nosso encontro será fantástico, no dia 26 de junho. Enquanto isso, só para fazer clima, leiam o fragmento abaixo:


"A história de Dorian Gray, que se mantém jovem e belo enquanto seu retrato envelhece, é uma magistral discussão sobre a arte, a vida e a moral. A narrativa de Oscar Wilde, que chocou a sociedade inglesa do final do século XIX, preserva, nos dias atuais, toda a sua força crítica"

Um abraço a todos.

Léa Masina

terça-feira, 15 de junho de 2010

Traduções de 'O retrato de Dorian Gray"- Peculiaridades

Algumas peculiaridades sobre as traduções de “O retrato de Dorian Gray” no Brasil merecem destaque. Interessante ressaltar, por exemplo, o papel do Jornalista e escritor João do Rio (João Paulo Emílio Cristovão dos Santos Coelho Barreto) na difusão da obra de Wilde em nosso país. Em 1903, descobre Oscar Wilde. Deslumbrado, encomenda, em seguida, suas obras ao livreiro Crashley. As obras eram condenadas na ocasião, portanto raras- e de alto valor. João do Rio traduziu e difundiu o trabalho de Oscar Wilde no Brasil: Salomé; Intenção, O Retrato de Dorian Gray e O Leque de Lady Windermese. Foi um dos primeiros escritores brasileiros a publicar artigos sobre Wilde, no número de abril de 1905 na revista A Renascença, sob o título Breviário do Artificialismo.
Sobre o jornalista, escritor e primeiro tradutor de Oscar Wilde, João do Rio, refere-se que nasceu no Rio de Janeiro em agosto de 1881. Iniciou sua atividade no jornalismo aos 16 anos e, aos 18, chegou à redação do jornal Cidade do Rio. Na década de 1920, fundou 'A Pátria e o vespertino Rio Jornal'. Em 1908, escreveu 'A alma encantadora das ruas', uma de suas obras mais celebradas. Em 1910, entrou para a Academia Brasileira de Letras. João do Rio faleceu aos 39 anos, em junho de 1921.
Outro aspecto interessante sobre as traduções de “O retrato de Dorian Gray” no Brasil refere-se à adaptação feita por Clarice Lispector. Em 1973, a escritora perde a coluna em que escrevia no “Jornal do Brasil” desde 1967 (fonte: http://www.releituras.com/clispector_bio.asp), e passa a trabalhar como tradutora para compensar a perda do espaço. Em 1974, traduz “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, adaptado para o público juvenil, entre outras obras. A tradução de Clarice foi publicada pela Ediouro (RJ), e está incluída na coleção de Clássicos Adaptados da editora, sob assunto “Literatura Juvenil”.
A salientar, ainda, outra peculiaridade sobre as traduções de “O retrato de Dorian Gray”: a tradução da primeira versão escrita pelo autor. Oscar Wilde publicou a obra inicialmente no periódico norte-americano Lippincott’s Monthly Magazine, em 20 de junho de 1890, versão que foi publicada no Brasil pela Editora Landmark, em 2009, em edição bilíngüe. Nesta, são apresentados os 13 capítulos originais publicados pela revista norte-americana, sem as alterações posteriores de 1891, que a editora Inglesa Ward, Lock and Company exigiu para lançá-lo no mercado britânico em versão mais “amena”, com a trama suave e a relação de Gray com os demais personagens mais moderada em relação à primeira, conforme divulgação da Editora Landmark. De acordo com a mesma divulgação, também, a tradução da primeira publicação, de 1890, resgata a obra em sua forma original e oferece ao público a versão mais densa, explícita e polêmica do romance de Wilde. A tradução pela Ed. Landmark foi realizada por Marcella Furtado.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Fragmentos

"Eu irei ficando velho, feio, horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... Se fosse o contrário ! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse !... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!" .

Oscar Wilde
Oscar Wilde, nascido na Irlanda em 1859, cresceu em ambiente intelectual e estudou em Oxford, onde se deparou com a corrente da arte pela arte e tornou-se um dos principais expoentes do movimento artístico do Esteticismo. Famoso pelo seu cinismo e arrogância, há rumores que Retrato de Dorian Gray tenha sido a sua própria biografia. O autor possui um acervo de obras rico e extenso em contos, ensaios, peças de teatro e romance. Wilde casou e teve dois filhos, mas os boatos a respeito de sua conduta sexual se concretizaram quando Wilde foi condenado e preso por “conduta imoral”. A partir do escândalo, suas peças de teatro foram suspensas e seus livros recolhidos. Quando saiu da prisão, Oscar Wilde se auto-exilou em Paris, onde morreu em 30 de novembro de 1900 na mais absoluta decadência e solidão.

Sobre "O retrato de Dorian Gray"

É uma história que questiona a beleza, a juventude, os valores morais. Pelos seus diálogos percebemos questionamentos sobre a vida e nossa atuação nela. Dorian Gray era um jovem de 20 anos pertencente à alta burguesia inglesa, de uma beleza física inimaginável, e foi retratado pelo pintor Basil Hallward, que se apaixonou pelo rapaz. Lorde Wotton era um homem extremamente inteligente, perspicaz, irônico e com grande vivência nos relacionamentos humanos, capaz de exercer forte influência sobre as demais pessoas. Este era amigo de Basil e tornou-se muito próximo de Dorian, passando a instigá-lo e a estudá-lo em suas reações e atitudes. Quando Dorian Gray deparou-se com a obra pronta (seu retrato) disse com os olhos cravados na sua efígie. – Eu irei ficando velho, feio horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar a troca. Daria até a alma!. A partir daí, temos o desenrolar da história. Dorian apaixona-se por uma jovem artista, Sibyl Vane, que se apresentava num pequeno teatro. Então lhe fala em casamento. A moça, muito humilde, fica lisonjeada. Sua mãe e irmão, que estaria ingressando na Marinha, ficam preocupados. Dorian convida seus dois amigos, Basil e Lorde Wotton, para assistir a uma das apresentações da moça. Nessa noite, a moça representa muito mal. Dorian fica consternado. Seus amigos vão embora dando-lhe palavras de estímulo, enaltecendo a beleza da moça. Dorian vai até o camarim. Sibyl está feliz, e diz-lhe que, de agora em diante só viverá para o amor de Dorian. Toda a energia vital de Sibyl estava dirigida ao representar; assim que se apaixonou, sua energia foi dirigida para o objeto amado e apresentou-se como uma artista medíocre. Isto levou Dorian a desapaixonar-se. Então, ele a humilhou e desprezou. Virou lhe as costas para nunca mais voltar. Ao chegar a casa, Dorian, dirigiu-se a seu quarto e, ao olhar seu retrato, quase ensandeceu, ao perceber que o quadro havia se alterado. Seu sorriso não era mais o mesmo. Caracteriza-se pelo cinismo e maldade. Refletiu e percebeu que o quadro refletia sua alma. Portanto deveria desculpar-se com Sibyl, assim o quadro voltaria ao normal. Entretanto, era tarde demais, Sibyl havia cometido suicídio. A partir de então, Dorian passou a viver tudo que lhe era ou não permitido. Passou a ter uma conduta fria e interesseira com todos à sua volta. Induziu pessoas a atos vulgares e criminosos, sempre impune. Assassinou seu amigo Basil, à facadas, quando este descobre o que está acontecendo. Leva outro amigo, um químico, ao suicídio após induzi-lo a desfazer-se do cadáver de Basil. Apenas o quadro se alterava, transformando-se numa figura monstruosa sendo que das mãos da imagem gotejava sangue. Dorian já contava com 40 anos, quando pensou em curar sua alma. Pensou em levar uma vida pura, sem magoar quem quer que fosse. E por isso não se aproveitou de uma camponesa. Ele se dá conta de que sua soberba o levou a esta vida de pecados. Amaldiçoou sua beleza e mocidade e pensou que sem elas sua vida seria pura. O que mais lhe doía era a morte, em vida, da sua alma. Dorian havia escondido o quadro num quarto desocupado, que fora de seu avô. Sobe até o quarto, olha o quadro e grita de terror. Apesar de suas boas ações, o quadro não se alterara para melhor como supunha, continuava a gotejar sangue ainda mais vivo e estava mais horrendo. Então Dorian percebe claramente a verdade: por vaidade, ele poupara a camponesa e a hipocrisia pusera-lhe no rosto a máscara da bondade. A única prova de seu mau caráter, de sua consciência, era o quadro. Então, resolveu destruí-lo. E, com a mesma faca com que matou Basil, trespassou o retrato. Ouviu-se um grito. Os criados acudiram. E, quando conseguiram adentrar ao quarto, viram na parede o magnífico retrato, e, no chão, jazia o corpo de Dorian, com a faca cravada no peito, que só pôde ser reconhecido pelos anéis em seus dedos.

Nesta semana, seguirá série de textos sobre a obra e suas traduções.
Acompanhe!

sábado, 5 de junho de 2010

Email da Coordenadora sobre o próximo "Porque hoje é sábado"

Queridos amigos:

Dêem uma olhada no nosso blog para irem se preparando para o encontro sobre "O retrato de Dorian Gray", um dos livros mais importantes da literatura ocidental. Leiam as sugestões postadas pela Editorial Luminara e o curriculum do nosso palestrante, Dr. Ricardo Barberena. Com certeza, todos irão gostar.E vamos encarando a leitura que, aliás, já está à venda nas bancas de resvistas e vale a pena adquirir.

O retrato de Dorian Gray

“Estava o estúdio impregnado do forte cheiro das rosas. Quando, por entre as árvores do jardim, passava a leve viração, entrava pela porta aberta o odor dos lilases, de mistura com o perfume mais sutil das madressilvas.De um canto do divã entre almofadas persas, onde habitualmente se estirava, fumando inúmeros cigarros, lorde Henry Wotton percebia perfeitamente o brilho das doces flores cor de mel, cobrindo um ébano de galhos trementes, como cansados de suportar o peso de tão fascinante esplendor.”

O Retrato de Dorian Gray- Oscar Wilde


SINOPSE

O romance, de forte cariz estético, conta a história fictícia de um homem jovem chamado Dorian Gray na Inglaterra aristocrática e hedonista do século XIX, que torna-se modelo para uma pintura do artista Basil Hallward. Dorian tornou-se não apenas modelo de Basil pela sua beleza física (um "Adônis que se diria feito de marfim e pétalas de rosa"), mas também tornou-se uma fonte de inspiração para outras obras e, implicitamente no texto, uma paixão platônica por parte do pintor. Mas o seu retrato, que Basil não quer expôr por ter colocado "muito de mim mesmo", foi sua grande obra-prima.
Lord Henry Wotton, um aristocrata
cínico e hedonista típico da época e grande amigo de Basil, conhece Dorian e o seduz para sua visão de mundo, onde o único propósito que vale a pena ser perseguido é o da beleza e do prazer: "sou de parecer que se o homem vivesse plena e totalmente a sua vida, desse forma a todo sentimento, expressão a toda idéia, realidade a todo devaneio... creio que o mundo receberia um novo impulso eufórico,um impulso de alegria que nos faria esquecer todos os males do medievalismo e voltar aos ideais helênicos..."
No entanto, segundo Henry, a beleza é efêmera. Até mesmo a
inteligência lhe é prejudicial: "a beleza, a verdadeira beleza, acaba onde principia a expressão inteligente", enquanto que "a beleza é uma forma de gênio... mais elevada que o gênio, pois dispensa explicação". Dorian foi seduzido pelas palavras de Henry e pela tristeza de seu destino: "o senhor dispõe só de alguns anos para viver deveras, perfeitamente, plenamente. Quando a mocidade passar, a sua beleza ir-se-á com ela; então o senhor descobrirá que já não o aguardam triunfos, ou que só lhe restam as vitórias medíocres que a recordação do passado tornará mais amargas que destroçadas.".
Ao ver-se em seu retrato finalmente pronto, exaspera-se:
"Eu irei ficando velho, feio, horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... Se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!" .

IMPORTÂNCIA


Esta obra tornou-se um símbolo da juventude intelectual "decadente" da época e de suas críticas à cultura
vitoriana, além de ter despertado grande polêmica em relação ao seu conteúdo homoerótico (o autor, Oscar Wilde, era homossexual e foi preso por isso). O próprio Oscar Wilde foi apontado como o pai do decadentismo na Inglaterra, coisa que ele sempre negou. Aquando do julgamento de Wilde algumas partes deste livro foram usadas contra si. O facto de ser imoral não abonou nada a favor de Wilde, além disso provou-se ter sido influenciado pela literatura francesa de então que promovia um estilo estético a converter para a decadência.
Hoje, o livro tem sido descrito como "um dos clássicos modernos da
Literatura Ocidental"[3]. A BBC classificou a obra como 118 na sua lista de "Big Read", uma lista com os 200 romances mais populares. Afinal, o livro é mais importante que a polêmica que gerou, como Oscar Wilde escreveu em seu prefácio: "Não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo." Algumas bandas dos anos 80 como Smiths se influenciaram em Oscar Wilde.

Referências

1.The Picture of Dorian Gray (Penguin Classics) - Introdução

2. Notes on The Picture of Dorian Gray - Visão geral do texto, fontes, influências, temas e um resumo do livro

3. Books of the poet: Oscar Wilde

FONTE: WIKIPEDIA









sexta-feira, 4 de junho de 2010

Próximo encontro de "Porque hoje é sábado"

O próximo encontro do grupo de leitura coordenado pela Profa. Dra. Léa Masina será sobre o livro "O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, com a palestra de Prof. Dr. Ricardo Barberena. Acompanhe o blog durante o mês de junho para conhecer o palestrante, o autor, a obra, e suas traduções no Brasil.
O encontro ocorrerá no sábado 26 de junho, das 10hs às 12hs.
Em breve, neste blog http://www.leiturascomlea.blogspot.com , novos textos sobre O Retrato de Dorian Gray. Participe!
As inscrições são feitas pelo email da coordenadora, Profa. Dra. Léa Masina

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Retorno do Prof. Nicotti sobre "Porque hoje é sábado"

Abaixo, o email enviado por Prof. Nicotti, ministrante do excelente encontro o último sábado, 29 de maio, sobre o livro Crime e Castigo, de Dostoiévski.

"Prof. Léa Masina
Primeiramente, gostaria de agradecer mais uma vez pela boa acolhida e pelo convite feito. Este grupo que se reúne aos sábados pela manhã destoa da cidade, como comentei hoje pela manhã. Foi um imenso prazer estar com vocês neste encontro dostoievskiano. Foi uma manhã de sábado que há tempo eu não desfrutava. Aliás, amanhã mesmo começo minhas observações sobre CRIME E CASTIGO. Obrigado, também, por mais este convite.
Abraço. Nicotti. "

domingo, 9 de maio de 2010

Algumas traduções de Crime e Castigo no Brasil

Crime e Castigo, na edição da Editora 34, tem tradução direta do russo, por Paulo Bezerra, e edição atualizada em 2009, pelo acordo ortográfico.
Prêmio Paulo Rónai da Biblioteca Nacional de Melhor Tradução 2002. Sobre o tradutor:
Paulo Bezerra estudou língua e literatura russa na Universidade Lomonóssov, em Moscou, e foi professor de teoria da literatura na UERJ e de língua e literatura russa na USP. Livre-docente em Letras, leciona atualmente na Universidade Federal Fluminense. Já verteu diretamente do russo mais de quarenta obras nos campos da filosofia, psicologia, teoria literária e ficção, destacando-se suas premiadas traduções de Crime e castigo, O idiota e Os demônios, de Dostoiévski. Entrevista com o tradutor Paulo Bezerra no link: http://www.ufmg.br/boletim/bol1442/sexta.shtml



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Coleção L&PM POCKET

CRIME E CASTIGO
PRESTUPLENIE I NAKAZANIE
Dostoiévski


Tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes.

Leia um trecho do livro no site da L&PM Editores


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Sobre as traduções- visita ao blog http://www.armonte.wordpress.com/ :
"No começo dos anos 80, li Crime e Castigo, de Dostoievski, pela primeira vez. A Abril Cultural, àquela época, estava lançando a série “Obras-Primas” em edições caprichadíssimas quanto a capas, papel, lombada, tudo de primeira, e muito barato. A tradução era de Natália Nunes (a mesma que consta das Obras Completas pela Aguilar).
Em 2001, pela editora 34 apareceu a tradução de Paulo Bezerra, ao que consta a única direta do russo.
Entre uma e outra (“biquei” também nas minhas diversas e fragmentadas voltas ao livro a tradução de Luiz Cláudio de Castro, que saiu pela Ediouro), descobri nos sebos a edição que a José Olympio fez das obras de Dostoievski e creio que ali encontrei o “meu” Crime e Castigo, o de Rosário Fusco (sua tradução foi publicada, em primeira edição, em 1949; tenho a edição de 1955, onde não se modernizara ainda a transcrição dos nomes russos, eles estão todos à francesa; mais tarde, em edições posteriores, Guimarães Rosa supervisionou a nova transcrição).
Quem é Rosário Fusco? Um grande nome do modernismo mineiro (nasceu em 1910 e morreu em 1976), membro do grupo que em Cataguazes manteve a revista “Verde”. Como ele está praticamente esquecido, ainda mais com esse nome exótico, devo dizer que só soube mais da sua existência e da sua obra quando estava estudando o modernismo mineiro para minha tese de doutorado sobre Autran Dourado. Há um capítulo nela chamado “O tamanho mineiro do modernismo”, em que estudo textos de Godofredo Rangel, João Alphonsus e Cyro dos Anjos e também comento algo a respeito de Fusco e Afonso Arinos. Para mim, durante anos, Fusco foi única e exclusivamente o esplêndido tradutor de nome insólito de Crime e Castigo. Na época em que escrevia a minha tese (final dos anos 90 e começo desta nossa década) era ainda muito refratário à Internet, praticamente não a utilizava, e meu método de pesquisa era muito pouco ortodoxo, um pouco guiado pela “música do acaso”. E essa música me fez encontrar, na biblioteca da escola onde dava aula, justamente um exemplar de O Agressor, de Fusco, numa obscura edição de 1976 da Francisco Alves. Um romance aliás todo dostoievskiano, mostrando a tensão crescente entre o protagonista David e uma dona de pensão autoritária, “disciplinadora”. Também li por essa época a obra de João Alphonsus e um de seus contos, O Mensageiro, apresenta o mesmo tipo de embate, com as mesmas características raskólnikovianas de oscilação entre o sentimento de onipotência e o auto-rebaixamento.
Sei que vou espantar e decepcionar os puristas e adeptos de traduções vertidas diretamente do original, mas a tradução feita do francês do grande escritor mineiro é, para mim, a que melhor capta o espírito, mais que a letra, do romance mais famoso do grande autor russo. Há algo na cadência febril do estilo de Fusco, algo na sua fuliginosidade, que o aproxima mais do texto do que todos os esforços, mais que louváveis, decerto, do grande Paulo Bezerra (diga-se de passagem, é bom que ambas as versões existam).
Pois bem, após o começo dos anos 80, meu Raskólnikov se tornou mais Fusco, e a Abril Cultural virou a Nova Cultural e foi aquela decadência… Eles volta e meia relançavam a série “Obras-Primas” mas sempre em edições progressivamente pioradas. A última versão então apresentava traduções suspeitíssimas assinadas por nomes que eu duvido que existam (ficamos menos crédulos e mais espertos graças à persistência e disciplina de Denise Bottman e seu site Não gosto de plágio). A última edição de Crime e Castigo apresentava outro deslize grave: ali não constava o nome do tradutor.
Agora em 2010, passando por uma banca, vi que tinham novamente lançado a série. Pensei: mais um ato de picaretagem. Mas resolvi arriscar (afinal, R$14,90!) e qual não foi a minha surpresa ao ver que, além da qualidade, dessa vez resgataram a tradução de Rosário Fusco. Eis o motivo desse meu post. Acho é um texto que faz parte do nosso patrimônio cultural, e que não poderia ficar soterrado pelas areias do tempo. É uma grande tradução, que acerta o centro, o coração do lusco-fusco em que se movimentam os tipos dostoievkianos.
Para o leitor ter uma idéia de cada uma das quatro traduções, e ver qual a que mais o atrai, vou transcrever o início de cada uma delas.


A de Rosário Fusco começa assim:
“Numa dessas tardes mais quentes dos princípios de julho, um rapaz saía do pequeno quarto que alugara, no Beco S., dirigindo-se, o passo tardo, vacilante, para a ponte K. Teve sorte de não encontrar, na escada, a senhoria.
A água-furtada fica no alto de uma casa enorme, de cinco andares, e parecia mais um armário do que um cômodo habitável. A criatura que lhe alugara o cubículo, com comida e serviço de empregada, morava, justamente, logo embaixo de maneira que era obrigado, cada vez que saísse, a passar pela frente da respectiva cozinha, cuja porta, geralmente escancarada, dava para a escada. Nessa ocasião, sua expressão se contraía e vinha-lhe, sempre, aquela vaga sensação mórbida de pavor que o humilhava…”


A de Natália Nunes:
“Nos começos de julho, por um tempo extremamente quente, saía um rapaz de um cubículo alugado, na travessa de S., e, caminhando devagar, dirigia-se à ponte de K.
Discretamente, evitou encontrar-se com a dona da casa na escada. O tugúrio em que vivia ficava precisamente debaixo do telhado de uma alta casa de cinco andares e parecia mais um armário do que um quarto. A mulher que lho alugava, com refeição completa, vivia no andar logo abaixo, e por isso, quando o rapaz saía tinha de passar fatalmente diante da porta da cozinha, quase sempre aberta de par em par sobre o patamar.E todas as vezes que procedia assim sentia uma mórbida impressão de covardia, que o envergonhava e o fazia franzir o sobrolho.”



A de Luiz Cláudio de Castro:
“Em um maravilhoso entardecer de julho, extraordinariamente cálido, um rapaz deixou o quarto que ocupava no sótão de um vasto edifício de cinco andares no bairro de S., e, lentamente, com ar indeciso, se encaminhou para a ponte de K.
Teve a felicidade, ao descer, de não encontrar a senhoria, que morava no andar inferior. A cozinha, cuja porta estava sempre escancarada, dava para as escadas. Sempre que se ausentava, via-se o moço na contingência de afrontar as baterias do inimigo, o que o fazia passar pela forte sensação de quem se evade, que o humilhava e lhe carregava o sobrecenho.”



A de Paulo Bezerra:
“No cair da tarde de um início de julho, calor extremo, um jovem deixou o cubículo que subalugava de inquilinos na travessa S, ganhou a rua e, ar meio indeciso, caminhou a passos lentos em direção à ponte K.
Saiu-se bem, evitando encontrar a senhoria na escada. Seu cubículo ficava bem debaixo do telhado de um alto prédio de cinco andares, e mais parecia um armário que um apartamento. Já a senhoria, de quem ele subalugava o cubículo com cama e mesa, ocupava um apartamento individual um lanço de escada abaixo, e toda vez que ele saía para a rua tinha de lhe passar forçosamente ao lado da cozinha, quase sempre de porta escancarada para a escada. E cada vez que passava ao lado, o jovem experimentava uma sensação mórbida e covarde, que o envergonhava e levava a franzir o cenho.”

Só uma observação: a tradução de Luiz Cláudio de Castro erra feio em usar termos como “maravilhoso” e “cálido” para esse entardecer de julho, uma vez que logo a seguir Dostoievski se esmera em dar um retrato quase apocalíptico do verão de São Petersburgo, no qual só encontramos os pobres, muitos deles embriagados, porque os endinheirados deixaram a cidade para suas residências de verão, fugindo do mau cheiro pestilento. Por isso, é muito difícil que, num lugar assim, o entardecer fosse “maravilhoso” e “extraordinariamente cálido”. É um lugar de pesadelo, apropriado para a andança febril do protagonista."
Nota: Foram expostos aqui alguns depoimentos e considerações sobre aspectos das traduções de 'Crime e Castigo". A Equipe do blog http://www.leiturascomlea.blogspot.com agradecerá sugestões e discussões sobre o tema desta postagem. Assim, aguardaremos comentários e a participação dos visitantes deste espaço, sembre bem-vindos.

Notas sobre Dostoiewski- contribuição Profa. Dra. Léa Masina

FIÓDOR DOSTOIEWSKI

Nasceu em Moscou em 30 de outubro de 1821 e morreu em são Petersburgo em 9 de fevereiro de 1881. Obedecendo ao desejo paterno, foi educado, con tra sua vontade, numa escola militar de engenharia. O horror que sentia pelo sistema de vida militar fez com que se tornasse um solitário. Entregou-se muito cedo à leitura, principalmen te das obras de Schiller, Dickens, Sue, Jorge Sand e Balzac, do qual chegou a fazer traduções. Nessa época, a Europa começava a enfrentar conflitos sociais. Na Rússia czarista também era grande o movimento em prol de reformas, liberalização do regime, modernização do país e maior justiça social.

Dostoiewski iniciou a militância política em meio aos grupos anarquistas e, simultaneamente, decidiu tornar-se escritor. Demitiu-se do exército, procurando mais tempo para concluir seu primeiro livro - "Pobre Gente" - que a crítica recebeu com frieza, acusando-o de imitar Gogol. Desses primeiros trabalhos, o que conseguiu maior sucesso foi a novela "Noites Brancas".

Envolvido na conspiração do rebvolucionário Mikhael Petrachésvski, que pretendia assassinar Nicolau I, Dostoiewski foi preso e condenado à morte. No último momento, quando já estava no patíbulo, a pena foi transformada em trabalhos forçados na Sibéria. Anistiado em 1859, fixou residência em São Petersburgo, totalmente transformado pela dura experiência descrita em "Humilhados e Ofendidos" (1861) e "Recordações da Casa dos Mortos" (1862).

Resolve então dedicar-se ao jornalismo, fundando, com seu irmão Mikhail, o periódico "O Tempo". Mas a fama reconquistada não lhe traz o dinheiro necessário. O jornal e a doença da esposa custam caro. Dostoiewski acumula empréstimos; os credores ameaçam-nos de prisão. Em 1862, foge para o exterior, levando consigo uma jovem estudante, Polina Súslova. O dinheiro que conseguira levantar para a viagem, bem como o que ganhou com seus trabalhos na França, é dissipado pelo jogo. Por fim,deixa a amante - que seria personagem dos romances "O Jogador" (1866), "O Idiota" (1869) e "Os Irmãos Karamázov" (1880) - e volta à Rússia.

Ali, encontra a situação política mudada, o jornal fechado por ordem do governo, a esposa agonizante e o irmão em péssima situação financeira. Essa fase crítica, marcada ainda por fortes crises de epilepsia, leva o escritor a um estado de angústia que, no entanto, assinala seu amadurecimento completo como escritor. Publica "Memórias do subterrâneo" (1864) e "Crime e Castigo" (1866), considerado seu romance mais importante. Em 1867, casa-se com Ana Grigoriévna, uma estenógrafa de 21 anos. Novamente assediado pelos credores, foge para Genebra e, algum tempo depois, parte paraa Itália. Retorna à Rússia em 1871 e assume o cargo de redator chefe de "O Cidadão". É desse período o livro "Os Possessos" (1872), onde repudia os antigos companheiros de luta política. Com a publicação dos seus últimos romances - "O Adolescente" e "Os Irmãos Karamázov" - Dostoiewski passa a ser considerado o maior autor russo de seu tempo. Seus últimos anos foram tranquilos e felizes. Morreu atacado por uma hemorragia.

(Texto de Introdução a "Crime e Castigo", Abril Cultural, trad. de Natália Nunes)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Contribuições do Professor João Armando Nicotti

Considerações críticas sobre CRIME E CASTIGO, de Dostoievski

João Armando Nicotti


1. “CRIME E CASTIGO assegurou a popularidade do escritor. Não se falou senão desse acontecimento literário durante o ano de 1866: toda a Rússia preocupou-se com isso. Por ocasião do aparecimento do livro um estudante de Moscou assassinou um agiota em condições, sob todos os aspectos, semelhantes às imaginadas pelo romancista. Empreendeu-se uma curiosa estatística, procurando em muitos atentados análogos, cometidos desde então, a parte de influência dessa leitura. Decerto, as intenções de Dostoievski não admitem dúvida, ele procurou desviar-nos de semelhantes ações pelo quadro do suplício íntimo que as segue; mas não previu que a força excessiva de tais pinturas pudesse agir em sentido oposto, tentando o demônio da imitação nas regiões irracionais do cérebro. Sinto-me, por este motivo, muito embaraçado para pronunciar-me sobre o valor moral da obra. Nossos escritores dirão que me preocupo muito com isso. Não admitem, bem o sei, que esse elemento possa ser levado em conta na apreciação de uma obra de arte; como se alguma coisa existisse, no mundo, independente do valor moral! Os autores russos são menos soberbos, nutrem sempre o propósito de alimentar as almas, e a maior injúria que se lhes pode fazer é dizer-lhes que reuniram palavras sem servir a uma idéia. O romance de Dostoievski poderá ser tido como eficaz ou prejudicial, segundo o ponto de vista em que nos colocarmos, a favor ou contra a moralidade das execuções e dos processos públicos. A questão é da mesma ordem. Para mim ela será resolvida pela negativa.” (O romance russo. Melchior de Vogué. Editora A Noite.)

2. “Después de la figura de ‘el hombre del subsuelo’, Raskólnikov fue el primer protagonista de Dostoievsky, en el que se puede ver la proyección de las ideas del autor en el proceso de clarificación que él buscó en la realización artística de ellos. Casi podríamos decir que el escritor imaginó el personaje de Razumíchin, el amigo de Raskólnikov, para por medio de él caracterizar mejor a su héroe; pero en el desarollo de la novela, éste, además de definirse por sus acciones, se define también por el prolongado duelo dialéctico que tiene, antes de confesar, con el juez instructor Porfíri Petróvich, acerca del derecho a cometer un delito por el bien de la humanidad, delito que el juez define como ‘fruto de un corazón irritado teóricamente’. La idea de Raskólnikov no era literariamente una novedad, pero es difícil saber si con Raskólnikov, Dostoievsky pretendia hacer un paralelo ruso al problema ya expuesto por Balzac en Père Goriot con el dilema de Rastignac sobre si un hombre tiene el derecho de realizar un pequeño mal a fines de un gran bien o, en forma más parecida a la de Dostoievsky, de matar a un ser nulo y nocivo para dar la felicidad a otros muchos buenos que de otro modo se perderían. Para mostrar claramente su idea, Dostoievsky hace razonar extensamente a su héroe acerca de Napoléon, tanto que la crítica rusa habló de la ‘idea-Napoleón’ en base a una relación puramente conjetural entre Dostoievsky y Nietzsche, debida a la admiración que el filósofo del superhombre tuvo por el autor de Crimen y castigo.” (La literatura rusa moderna. Ettore Lo Gatto. Losada.)

3. “As doutrinas dos niilistas russos, ponto de partida do autor, só podem ser consideradas desinteressantes se as julgarmos em termos de algum horizonte filosófico mais amplo; mas a genialidade de Dostoiévski permitiu-lhe elevá-las a alturas artísticas comparáveis às maiores criações da tragédia grega e elisabetana. Seus romances são, como há muito tempo os chamou Viatcheslav Ivánov, ‘romance-tragédia’ tanto em sua técnica cênica quanto na força intransigente com que anunciam o choque de alternativas morais e religiosas conflitantes. Todavia, essas alternativas derivam dos conflitos socioculturais da própria época e lugar do romancista; e, se estamos interessados em entender Dostoiévski mais do que os numerosos meios pelos quais tomou consciência do mundo moderno, é indispensável tomar essas origens como nosso ponto de partida interpretativo. De outro modo, estamos sujeitos a nos extraviar tristemente na avaliação dos sentidos que ele quis transmitir e até mesmo a não entender as estruturas artísticas pelas quais esse sentido é comunicado.” (Dostoievski – Os anos milagrosos – 1865 a 1871. Joseph Frank. Edusp.)


Seleção: Professor Nicotti